Delegada diz que Cursi ‘lavou’ R$ 1 milhão comprando ouro

Em continuidade ao andamento processual da ação penal da 4ª fase da Operação Sodoma, a juíza Selma Rosane Santos Arruda, titular da 7ª Criminal de Cuiabá toma os depoimentos das testemunhas de defesa arroladas pelo réu Arnaldo Alves de Souza Neto, ex-secretário adjunto de Planejamento na gestão do então governador Silval Barbosa (PMDB).

A expectativa é que sejam ouvidas 5 pessoas, entre elas a delegada Alexandra Mensch Fachone, arrolada pelas defesas de Arnaldo e do ex-secretário de Fazenda, Marcel Souza de Cursi. Fachone é compõe a equipe de delegados e promotores responsáveis pelas investigações da Operação Sodoma em todas as fases.

Na ação penal são 17 réus, incluindo o ex-governador Silval Barbosa, processados pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro, falsidade ideológica, coação no curso do processo, organização criminosa, lavagem de dinheiro e receptação qualificada. O alvo da 4ª fase da Sodoma foi um esquema de cobrança de propina de R$ 15,8 milhões envolvendo a desapropriação do terreno do bairro Jardim Liberdade, em Cuiabá. O terreno foi comprado pelo Estado por R$ 31,8 milhões quando estava avaliada em R$ 17, 8 milhões.

Acompanhe os principais momentos da audiência

A delegada Alexandra Fachone, ao ser questionada por Gouth Valente, advogado de Marcel de Cursi, reafirmou que nos autos existem provas e detalhes do envolvimento do ex-secretário no esquema e que ele também se beneficiou de propina e lavou dinheiro ilegal.

Ela diz que cabia a Cursi, enquanto secretário de Fazenda, decidir o que seria pago. “Ele foi chamado por Pedro Nadaf pra atender uma ordem do chefe e também receberia propina no esquema. Ele viabilizou o pagamento dos R$ 31 milhões através da Sefaz e ele que fez a proposta de pagar o valor em 7 vezes”, diz a delegada em referência ao terreno do bairro Jardim Liberdade.

Conforme a delegada que integra a força tarefa que conduz as investigações da Operação Sodoma, Cursi e ficou com a propina que cabia a Pedro Nadaf. Então ele pegou os R$ 700 mil que seria dele, junto com propina de outro esquema e outros R$ 50 mil em cheques da empresa fantasma em nome de Marnie de Souza Cursi, esposa de Marcel de Cursi totalizando R$ 1 milhão e entregou a Nadaf para comprar ouro de João Justino, ex-presidente da Companhia Mato-grossense de Mineração (Metamat) para que providenciasse compra de ouro. Com isso, sustenta a delegada, Marcel de Cursi praticou crime de lavagem de dinheiro.

Os detalhes sobre a acusação contra Cursi envolvendo a compra de ouro com dinheiro de propina já tinham sido divulgados pelo Gazeta Digital em dezembro de 2016. Fachone revelou ainda que cheques da empresa de fachada da esposa de Cursi foram encontrados depositados em favor de uma irmã de Pedro Nadaf. Isso porque era Nadaf que guardava o dinheiro de Cursi e usou parte dele pra pagar contas pessoais. Ela ressalta que esses detalhes estão na investigação, no relatório policial.

Sobre o réu Levi Machado de Oliveira, a delegada respondeu questionamentos da defesa e atestou que ele também concorreu para o crime de lavagem de dinheiro. “Ele pegou dinheiro de propina, tirou a parte dele e repassou aos demais membros da organização”, enfatizou Fachone. Antes, Levi era quem recebia os pagamentos de propina, segundo a delegada. Ela garante que todos os detalhes sobre isso constam nos autos e foram relatados por um dos colaboradores da Sodoma. A defesa contesta e diz que a delegada está fazendo apenas suposições sem provas contra seu cliente. Ela rebate e atesta que tudo consta nos autos.

Na audiência também foi ouvida as servidoras públicas, Carla Cristina Araújo Vasques Moreno e Vinia Stocco, que trabalharam na Secretaria de Planejamento junto com o então secretário Arnaldo Alves.

Ex-chefe de gabinete não incrimina Arnaldo Alves

Carla Vasques Moreno é servidora pública estadual há mais de 30 anos e desempenhou funções administrativas como chefe de gabinete quando Arnaldo comandava a Seplan. Ela negou que o ex-secretário tenha pedido qualquer tratamento especial ou prioridade para algum processo específico. Afirmou ainda que ele nunca pediu que ela praticasse qualquer ato ilícito e se disse surpresa com as investigações e acusações contra o ex-secretário. Atualmente, ela é coordenadora de Estudos Geográficos na Seplan atualmente.

Ela foi questionada pela promotora Ana Cristina Bardusco, representante do Ministério Público na audiência, se presenciou encontros na Seplan entre Arnaldo e o empresário Alan Malouf ou os ex-secretários Pedro Nadaf e Marcel de Cursi.

“Vi o Pedro Nadaf algumas vezes lá na Seplan, mas o Arnaldo tinha uma secretária (Ana Maria) e ela que autorizava a entrada das visitas na sala”, informa a testemunha ao afirmar que nunca na Seplan nem Marcel de Cursi e nem Alan Malouf. Ela afirma não conhecer a tramitação orçamentária dentro da Seplan, pois essa função não fazia parte de suas atribuições.

Também testemunha de defesa de Arnaldo, a servidora Vinia Stocco, que atualmente analista administrativa na Secretaria de Meio Ambiente, disse que na época dos fatos, trabalhava na Seplan coordenando os ajustes do orçamento da Pasta chefiada por Arnaldo Alves. Ela descreve basicamente a rotina administrativa do cargo que ocupava na época.

Bardusco pergunta sobre o pagamento de indenização da regularização fundiária. A testemunha responde que a fonte 100 poderia ser utilizada tranquilamente, por ser a fonte principal do Estado, que vem de arrecadação de tributos. “Ela [fonte 100] é como se fosse o dinheiro em caixa pra todas as despesas”, diz a servidora. Bardusco diz que a desapropriação da área do Jardim Liberdade e indenização começou em 1997 e o pagamento foi autorizado em 2014 e quer saber se enquadrava como reserva de contingente. O requerimento para pagamento tramitava desde 2011. A testemunha não sabe informar com precisão pois essa não era a área de atuação dela na Seplan.

Texto: Gazeta Digital