Analistas desfazem sonho de saca de soja a R$ 90

A pouco mais de quatro meses boa parte dos produtores esperavam que a saca de soja ultrapassasse a casa dos R$ 90. O mercado, por sua vez, praticamente implorava para que os agricultores vendessem parte de sua futura colheita, prevendo que a situação não duraria. Esperançosos em conseguir tal valor, os sojicultores diminuíram o ritmo de suas vendas antecipadas, tanto que o país registrou até o momento apenas 30% da safra já negociada, enquanto o normal era algo acima de 40%. Agora, com a baixa no câmbio, o preço da oleaginosa para o brasileiro caiu ainda mais e muitos se perguntam, devo vender então? A resposta, segundo analistas de mercado, é não, melhor aguardar uma mudança nos preços.

A previsão de soja a R$ 90 foi, durante algum tempo, o objeto de desejo do setor produtivo da soja. Frustração a todos. Ao invés de subir os preços vieram abaixo e se engana quem culpou as safras recordes na América do Sul e Estados Unidos como razão para estas quedas nas cotações, o grande culpado foi na verdade o câmbio. Segundo o consultor Carlos Cogo, no pequeno intervalor de um mês, de dezembro do ano passado, até janeiro deste ano, a queda do câmbio foi de 7,8%. Em 12 meses, desde que o real chegou a R$ 4, o câmbio recuou 19,8%. Já o valor praticado pela soja na Bolsa de Chicago, praticamente se manteve em US$ 10 por bushel. “O problema não foi a super safra, mas sim as mudanças políticas nos Estados Unidos e Brasil”, explica Cogo.

De agora em diante Cogo não acredita em uma mudança radical nos valores praticados. As cotações e o câmbio tendem a permanecer iguais. “Este ano o vilão da safra pode e deve ser o câmbio. No cenário a curto e médio prazo não há nenhum fator que possa alterar a direção do câmbio a ponto de recuperar as cotações”, comenta ele. “As cotações em 2017 devem ser piores do que as do ano passado.”

O analista da consultoria Safras & Mercado, Evandro Oliveira, concorda com a análise e previsão realizadas por Cogo, inclusive de que o dólar vem dando sinais que não ajudará nesta safra. “Já começamos achar difícil chegar a R$ 80, como a pouco tempo atrás. Estes preços poderiam ter sido melhor aproveitados pelo produtor, até alertamos sobre isso, mas o mercado sempre espera um valor mais alto”, diz Oliveira. “O produtor perdeu a oportunidade.”

Este foi o caso de Nelson Ribeiro da Silva, que semeou 45 hectares com soja, nesta safra, na região de Cândido Mota, em São Paulo. O produtor que até o momento não vendeu nada, devido aos preços mais baixos, se disse arrependido de não ter aproveitados os R$ 80 por saca de meses atrás. “Acabei perdendo a oportunidade de vender naquele preço bom, porque achei que subiria ainda mais. Mas, isso não aconteceu”, assume Silva. “Agora vou esperar colher para tentar ganhar mais do que estes preços atuais.”

Apesar de parecer errado, já que após a colheita os preços tendem a baixar, a atitude de Silva é exatamente o que recomendam as consultorias de mercado. Isso porque, apesar de pequena, existe uma possibilidade dos preços ficarem levemente melhores mais para frente. “Uma das hipóteses para elevar este dólar é esta política de alta dos juros nos Estados Unidos, proposta pelo atual presidente Donald Trump. A desvalorização do real, diante de uma nova desconfiança vinda da política atual também poderia ter uma influência sobre o câmbio”, alerta Cogo. “Como o produtor não está com pressa, é melhor esperar um pouco e ver como ficarão os preços no futuro.”

Esta é a expectativa do produtor Ivanir Ferlin, que plantou 1140 hectares com soja no município de Nova Ubiratã, Mato Grosso. Hoje ele encontra preços de no máximo R$ 64 por saca, valor muito próximo ao custo de produção. “Estou esperando a saca chegar a pelo menos R$ 75 para vender, assim consigo pagar o financiamento de safra e ter um mínimo de lucro”, afirma Ferlin, que nesta época já teria vendido tudo, mas ainda tem pelo menos 20% a vender e com isso pagar seus débitos.

Para o analista da consultoria Safras & Mercado o clima também pode ajudar nesta elevação das cotações, pois se afetar gravemente as lavouras argentinas o mercado teria elementos para alta dos preços. “Se alguns destes fatores acontecerem, pode ser que o dólar volte a se valorizar e ajudar o produtor a ter preços bons. Então é interessante ficar de olho mais para frente, que os preços podem melhorar”, diz Oliveira.

O produtor Márcio Roberto Rieger, de Pato Bragado, no Paraná, já fez a sua opção, não vai vender nada agora, mesmo indo contra o que sempre faz, garantir a negociação antecipada de pelo menos 50% da colheita. Ele cultivou nesta temporada 210 hectares, aproximadamente e espera colher 60 sacas por hectare. “Os preços atuais não valem a pena, não cobrem os custos. Já terei um problema por conta do clima e isso reduzirá minha produção final, se aceitar qualquer valor não ganharei nada”, finaliza Rieger.

Texto: Canal Rural/Projeto Soja Brasil/Daniel Popov