CRM investiga se médica foi forçada a atestar óbito em Ubiratã

Conselho Regional de Medicina do Estado de Mato Grosso (CRM-MT) abriu sindicância para investigar se houve negligência em caso envolvendo a médica Camila Inácio de Oliveira. Ela alega que foi obrigada pelo delegado Nilson Farias, da Polícia Civil, a atestar a morte de uma mulher no município de Nova Ubiratã.

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A vítima, Celina da Silva de Amorim, 50, teria passado mal em uma fazenda a 281 km de Nova Ubiratã. Logo depois, foi levada dentro de uma caminhonete até a unidade hospitalar. A médica trabalha no local.

Na ocasião, Camila verificou os primeiros sinais e constatou que a mulher já estava morta, ainda dentro do veículo. Entretanto, a profissional negou expedir o laudo de óbito, solicitando que a Polícia Civil requisitasse o documento via ofício. 

A profissional da saúde alegou que não poderia assinar o documento porque “no fato de não ter acompanhado à paciente, havia dúvidas quanto a real causa de sua morte”. 

O advogado da fazenda orientou a família a registrar boletim de ocorrência na Delegacia da Polícia, onde, diante da situação, a médica foi levada e “submetida” a assinar o laudo da morte. O corpo ficou por 8 horas dentro do veículo até que o documento fosse expedido.

A médica registrou uma denúncia no Conselho Regional de Medicina (CRM) e no Ministério Público Estadual (MPE) alegando que o delegado, com auxílio de um investigador,  teria a coagido a assinar o atestado de óbito. Em nota o CRM repudiou a atitude a policia e informou que o caso está sendo investigado pelo conselho. 

Confira na íntegra: 

O Conselho Regional de Medicina do Estado de Mato Grosso vem a público, através de sua Presidente, Dra. Hildenete Monteiro Fortes, repudiar com veemência o tratamento truculento e extremamente desrespeitoso dispensado à profissional médica, Dra. Camila Oliveira, por parte da Polícia Civil de Nova Ubiratã, durante episódio relacionado à divergência sobre a expedição da Declaração de Óbito de paciente que teria chegado já sem vida na Unidade de Saúde do referido município.  

A resistência da médica em expedir o documento residiu no fato de não ter assistido à paciente, restando dúvidas quanto a real causa de sua morte. Sem adentrarmos no mérito da questão, se a profissional deveria ou não ter expedido a Declaração de Óbito, vez que os fatos serão objeto de apuração no âmbito deste Conselho, resta inadmissível o tratamento dispensado à profissional, cuja sala de atendimento na unidade de saúde foi invadida pelos policiais, sem saberem se esta estaria ou não em atendimento à paciente naquele momento, tendo inclusive, a médica sido conduzida na viatura policial, diante de todos os pacientes que aguardavam atendimento médico. Tal conduta violou a dignidade da profissional, deixando a médica emocional e moralmente abalada. 

O CRMMT, que possui a atribuição legal de zelar pelo exercício ético da medicina e pelo prestigio e bom conceito da profissão, reitera sua profunda indignação com a forma com que os fatos foram conduzidos, atingindo a todos os profissionais que labutam no dia a dia emprol da prestação de serviços de saúde com qualidade ao cidadão mato-grossense.

Hildenete Monteiro Fortes 

Presidente do Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso

Texto: Allan Mesquita/Gazeta Digital