Acordo entre Brasil China contempla megaferrovia em MT

A presidente Dilma Rousseff e o primeiro-ministro da República Popular da China, Li Keqiang, ao Brasil, firmaram, em Brasília, nesta terça-feira (19),  um Plano de Ação Conjunta entre os dois países no período de 2015 a 2021. 

Foram assinados  35 acordos que abrangem os segmentos de infraestrutura, manufaturas, comércio, planejamento estratégico, infraestrutura, transporte, agricultura, energia, mineração, ciência e tecnologia, comércio, entre outros. 

Durante a visita de Li Keqiang, a presidente também recebeu o presidente do Peru, Ollanta Humala. Os três países iniciaram juntos estudos de viabilidade para a Ferrovia Transcontinental, que vai cruzar o continente sulamericano, ligando o oceano Atlântico ao Pacífico.

“Um novo caminho para a Ásia se abrirá para o Brasil, reduzindo distâncias e custos. Um caminho que nos levará diretamente, pelo Oceano Pacífico, até os portos do Peru e da China”, afirmou Dilma Rousseff, durante declaração feita à imprensa após a assinatura de atos entre os dois países.

“Convidamos as empresas chinesas a participarem dessa grande obra, que sairá de Campinorte, no Tocantins, lá na Ferrovia Norte Sul, passará por Lucas do Rio Verde, em Mato Grosso, atingirá o Acre e atravessará os Andes até chegar ao porto no Peru”, explicou a presidente.

Além disso, foram celebradas declarações conjuntas sobre os resultados da visita do primeiro-ministro e sobre mudanças climáticas.

Relações

“O Plano de Ação Conjunta 2015-2021, que assinei com o primeiro-ministro, inaugura uma etapa superior em nosso relacionamento. Está expresso nos vários acordos, nos múltiplos acordos governamentais e empresariais firmados hoje, em especial nas áreas de investimentos e comércio”, afirmou Dilma Rousseff. 

O primeiro-ministro da República Popular da China, Li Keqiang, chegou na noite de segunda-feira (18), acompanhado por cerca de 120 empresários chineses, e foi recebido no Palácio do Planalto com honras de chefe de Estado. 

Brasil e China mantêm importantes fluxos de investimentos bilaterais. As trocas comerciais entre os dois países alcançaram US$ 77,9 bilhões em 2014, com superávit brasileiro de US$ 3,3 bilhões. Do lado brasileiro, destacam-se os setores aeronáutico, bancário, de máquinas, autopartes e agronegócio. Tem-se observado, também, diversificação dos investimentos chineses no Brasil para setores de energia, eletrônicos, automotivo e bancário.

Carne brasileira

Acordo sanitário entre os dois países também colocou na fila mais nove frigoríficos brasileiros, a princípio, para exportar carne à China. “A partir deste acordo sanitário cria-se uma nova forma de relacionamento entre as autoridades chinesas, autoridades sanitárias brasileiras e o Ministério da Agricultura”, disse a presidenta Dilma Rousseff.

As relações comerciais entre Brasil e China foram estabelecidas em 1979 e, desde então, têm evoluído ano a ano. A partir de 2009, o país asiático se transformou no maior parceiro comercial brasileiro. A cooperação com a China também vem se constituindo numa das principais fontes de investimento diretos no País, tendo entre os destaques os setores de energia e mineração, siderurgia e agronegócio.

A cooperação entre Brasil e China tem o olhar atento dos demais países do mundo, em especial aqueles em desenvolvimento. Para o secretário-geral das Relações Exteriores, embaixador Sérgio Danese, chama especialmente a atenção a vocação inovadora e a capacidade de renovação desse relacionamento.

“Quando demos início ao programa CBERS [Programa China Brasil Earth Resource Satellite], em 1988 – o primeiro entre países em desenvolvimento no campo da alta tecnologia – poucos acreditavam na sua continuidade. Menos ainda na nossa capacidade de avançar conjuntamente no desenvolvimento de novas tecnologias. Mostramos a todos que isso é plenamente possível”, afirmou o embaixador brasileiro, durante reunião da reunião da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (Cosban), há cerca de um mês.

Para ele, o mesmo pode ser dito em relação à parceria estratégica, instituída em 1993 – a primeira estabelecida pela China. “Hoje temos uma parceria genuinamente global. Somos parceiros no BRICS, no BASIC e no G-20. Criamos o Novo Banco de Desenvolvimento do BRICS e o Arranjo Contingente de Reservas. E agora o Brasil se une à China na formação do Banco Asiático de Investimento e Infraestrutura. Todas essas são áreas inovadoras das relações internacionais contemporâneas, nas quais temos podido desenvolver uma proveitosa ação comum e coordenada”, afirmou.

A megaferrovia

Segundo o projeto conjunto Brasil-China, o Estado de Mato Grosso deverá ser rota de uma megaferrovia, cujo investimento está orçado em R$ 30 bilhões e tem como objetivo a construção de um corredor de trilhos entre o Brasil e o Peru, ligando assim, os oceanos Atlântico e Pacífico. 

Na semana passada, o jornal Folha de S. Paulo revelou que, com base em informação de ministros e técnicos da Esplanada, as negociações referentes a esse projeto já estariam avançadas, especialmente no trecho Campinorte, que liga o Estado de Goiás ao município mato-grossense de Lucas do Rio Verde (354 km ao Norte de Cuiabá). 

Este trecho é considerado o “cinturão brasileiro do agronegócio”, por onde passa a maior parte da produção nacional de grãos. 

Pelo desenho original, a Transoceânica começa no Rio de Janeiro, passando pelos estados de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Rondônia e Acre, e aí então, seguiria para o Peru. 

Fico 

Paralelo à possibilidade de novos investimentos no setor – o que melhoria o escoamento da produção de grãos de Mato Grosso –, ainda existem muitas queixas por conta de projetos que ainda não saíram do papel no Estado. 

É o caso, por exemplo, da Ferrovia da Integração Centro-Oeste (Fico), planejada para ir de Vilhena, em Rondônia, passando pelas lavouras de Mato Grosso, até Uruaçu, em Goiás. 

Segundo a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), as licitações estão atrasadas porque os projetos ainda não estão totalmente definidos.

Recentemente, o diretor ANTT, Carlos Fernando Nascimento, explicou que o “modelo regulatório ainda precisa de algumas definições de contorno”. 

“O nosso contrato de concessão ainda precisa alguns aperfeiçoamentos e esses aperfeiçoamentos vêm sendo construídos”, disse ele.

Texto: Mídia News