“Preço da carne não vai voltar ao que era antes”, diz Sindifrigo

Após um “boom” nas exportações para a China e o valor da carne disparar nas gôndolas de supermercado, a perspectiva é de que o preço se estabilize no curto prazo. No entanto, o empresário Paulo Bellincanta, presidente do Sindicato das Indústrias Frigoríficas de Mato Grosso (Sindifrigo), afirma que o valor do produto não deve voltar mais aos patamares de antes.

Bellincanta explica que o mercado da carne ficou estagnado por cerca de cinco anos sem que houvesse nenhum ajuste nos preços. Isso acabou gerando prejuízos ao setor, que já não conseguia mais se manter.

Agora, com a expansão para novos mercados consumidores, como a China, o valor passa por uma fase de acomodação, segundo o dirigente. Bellincanta ainda revelou que o preço da arroba – que chegou a R$ 215 – já sofreu uma leve queda ao longo desta semana no atacado.

“A arroba já abaixou em torno de R$ 20 em Mato Grosso, de R$ 20 a R$ 30 em São Paulo e a carne no atacado já está mais barata do que na semana passada”, explica. O preço pode voltar a subir ou até mesmo cair mais um pouco nos próximos dias até encontrar um equilíbrio, onde irá se manter a médio e longo prazo, conforme o empresário.

“Não vai voltar ao que era antes. O mercado deve oscilar em preços. Sempre quando há um aumento nesse patamar, você tem um aumento um pouco acima do que ele vai permanecer e depois cai um pouco abaixo. Tem essa oscilação que é muito normal”, afirma.

Leia os principais trechos da entrevista:

MidiaNews – A elevação do consumo na China é realmente o principal fator para o aumento no preço da carne? Ou há outros que pesaram também?

Paulo Bellincanta – Nunca tem um motivo só. O dólar influenciou muito, os volumes que foram para a China foram altos. Teve uma diminuição de oferta de rebanho por causa do momento do ano em que acabam os confinamentos. Você soma tudo e acontece isso.

MidiaNews – Há alguns cortes que tiveram aumentos maiores que outros? O senhor pode dar exemplos?

Paulo Bellincanta – Não. Sempre sobe em uma proporcionalidade. Você percebe o aumento daqueles cortes com maiores preços e, talvez, aparentemente eles possam se destacar mais. Na prática, sempre é uma alta proporcional. A distribuição de preço entre os cortes é uma distribuição proporcional, salvo que algum corte passe a ter alguma demanda maior. Aí automaticamente ocorre a lei da oferta e da procura.

MidiaNews – Existe uma possibilidade de redução no preço da arroba no curto prazo?

Paulo Bellincanta – Esta semana se inverteu muito essa situação. A China tirou muito produto, o mercado interno ficou em falta e teve todo esse aumento. Mas nesse exato momento está em baixa. Inverteu aquela posição. A China segurou as compras, praticamente estagnaram as compras. E o que acontece é uma situação de mercado bem diferente da semana passada, que era de muita alta.

A gente viveu um momento em que estava muito alto e todo mundo estava com muito medo. A arroba já abaixou em torno de R$ 20 em Mato Grosso, de R$ 20 a R$ 30 em São Paulo e a carne no atacado já está em torno de 20% mais barata do que na semana passada.

Você vai ter uns ajustes nesse preço. Hoje [quarta-feira] a arroba do boi está em torno de R$ 170 a R$ 180. Tinha subido para R$ 210 a R$ 215 e antes era cerca de R$ 140. Neste fim de semana será possível encontrar a carne no atacado bem mais barata que na semana passada.

MidiaNews – Muitos, inclusive a ministra Tereza Cristina, consideram que o preço da carne não voltará mais ao antigo patamar. O senhor também tem esse mesmo pensamento?

Paulo Bellincanta – Não vai voltar ao que era antes. O mercado deve oscilar em preços. Sempre quando há um aumento nesse patamar, você tem um aumento um pouco acima do que ele vai permanecer e depois cai um pouco abaixo. Tem essa oscilação que é muito normal. Talvez ele possa cair mais um pouco para depois subir. A tendência é que se estabilize em torno de US$ 50 em São Paulo. Em Mato Grosso seria em torno de US$ 48 a arroba. Essa é uma tendência de mercado. A ministra está corretíssima, não vai voltar. Não tem como voltar. A arroba ficou achatada por cinco anos, então a volta aos patamares antigos não tem como imaginar.

Em todas as partes do mundo houve oscilação nas proteínas. As proteínas foram muito demandadas pela China. Não temos a menor condição de fazer uma aposta, uma previsão.

MidiaNews – O consumidor não entende por que tem que pagar mais pela carne somente porque o mercado internacional está pagando um preço mais elevado. O senhor pode explicar o porquê desta relação?

Paulo Bellincanta – A carne no Brasil estava defasada, ela ficou por cinco ou seis anos sem ter alteração. O pecuarista no Brasil estava perdendo a competitividade. Você tinha as áreas de pastagem sendo ocupadas por soja, estava em uma situação de prejuízo na operação. Neste exato momento, tem uma posição de ajuste, correção. Então o preço vai ser mais alto.

MidiaNews – Apesar de ser ruim para o consumidor, este aumento beneficia os frigoríficos. O setor vive seu melhor momento, não é mesmo?

Paulo Bellincanta – O melhor momento é do pecuarista, da arroba do boi, da indústria frigorífica. Nós estamos mudando o patamar. É um bom momento, é um momento de reajuste e equilíbrio do nosso produto. Houve um exagero na carne, mas já estão sendo corrigidos.

A carne no Brasil estava defasada em relação ao resto do Mundo porque o País não tinha acesso aos grandes mercados, mercados que pagassem mais por produto. Hoje esse desequilíbrio, com a entrada da China, foi vencido. Então o Brasil passa para outro patamar.

MidiaNews – Acredita que uma redução interna no consumo poderá forçar uma redução nos preços nos açougues?

Paulo Bellincanta – Sem dúvida. É a lei de oferta e procura. Tudo se soma. Vários fatores se somaram para que o preço subisse, mas vários fatores estão se somando para reajustar. Entre esses fatores está a diminuição de consumo, com certeza.

MidiaNews – Acredita que esse apetite chinês pela carne brasileira vai ceder em algum momento?

Paulo Bellincanta – Não. Ele só vai se equilibrar, mas não vai ter surpresa com relação à saída da China como mercado. É um mercado muito grande, é um mercado que deve se ampliar em relação a volumes. Ele vai ficar porque está correspondendo às expectativas do povo chinês. A tendência é de evolução desse mercado.

Eu sou muito otimista. O mercado da carne é muito promissor. O Brasil está entrando na Ásia, que é um continente com uma população muito grande. Ainda tem países que não abriram o comércio para o mercado da carne. Há um trabalho muito sério da ministra Tereza Cristina nesse sentido. Se nós acessarmos a Coréia do Sul, que é um país rico, de alto poder aquisitivo e com grande população, tem um potencial. Tem a Indonésia, que ainda está sendo aberta, Filipinas, o próprio Japão… São todos mercados consumidores com potencial muito elevado.

MidiaNews –  Qual é a previsão de volume de exportação de carne para 2019 pelos frigoríficos de Mato Grosso? E qual o aumento em relação ao ano passado?

Paulo Bellincanta – Não gosto muito de números porque eles sempre me traem. Mas é crescente. A gente tinha um histórico no Brasil de pouco mais de 100 toneladas por mês. De repente, a gente se depara com uma evolução de 30% a 40% de mercado em tempo muito curto. Eu acho que nós podemos esperar um Brasil exportando acima das 200 mil toneladas por mês.

Em Mato Grosso houve um aumento muito significativo. Como houve um crescimento muito grande de plantas habilitadas para a China, Mato Grosso está na frente dos demais estados com relação ao crescimento das exportações. Ele é o Estado que mais evoluiu em exportações e a tendência é de crescimento.

Texto: Bianca Fujimori/Mídia News