Conselhos de apresentador da Fox News ajudaram Trump a cancelar ataque ao Irã, diz NYT

Conselhos do popular apresentador da Fox News,Tucker Carlson , foram um fator decisivo para o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump , cancelar o ataque ao Irã , afirma uma reportagem do New York Times publicada na noite desta sexta-feira. Segundo o jornal, Carlson disse que Trump não seria reeleito caso atacasse o país persa, o que ajudou o presidente a não conduzir o ataque.

Em uma detalhada reportagem com a colaboração de dez jornalistas, o NYT diz que Trump ouviu conselhos de generais, membros da alta cúpula do governo e de diplomatas. Enquanto os assessores de segurança nacional — muitos deles, como o conselheiro de Segurança Nacional, John Bolton, notórios entusiastas de soluções militares — pediram que ele ordenasse um ataque militar contra o Irã em retaliação por abater um avião não tripulado, Carlson o aconselhara recentemente a não responder às provocações de Teerã com força, o que seria “uma loucura”.

“Os ‘falcões’ não tinham os melhores interesses de Trump em seus corações, disse Carlson. E se ele entrasse em guerra com o Irã, Trump poderia dar adeus ao sonho de ser reeleito”, aconselhou o apresentador, segundo o NYT.

O jornal acrescenta que os “sentimentos certamente reforçaram as dúvidas que o próprio sr. Trump abrigou ao abrir caminho em uma das mais importantes decisões de política externa de sua Presidência. Por sua própria conta, o presidente cancelou a ofensiva na noite de quinta-feira, com apenas 10 minutos de sobra para evitar a morte de 150 pessoas”.

O NYT ressalta que as preocupações que Trump escutou de Carlson refletiram a parte do presidente que sempre hesitou em puxar o gatilho. “Beligerante e confrontador como ele é em sua personalidade pública, Trump mais de uma vez recuou do uso da força, por estar convencido de que os Estados Unidos desperdiçaram muitas vidas e muito dinheiro em guerras sem sentido no Oriente Médio. Ele considera as decisões de seus antecessores erros e deseja evitá-los”, destacou a publicação.

Um novo estilo

O jornal ressalta que a proximidade com que Trump esteve de atacar o Irã serviu para deixar claro como o processo de tomada de decisão do presidente é diferente do de seus antecessores.

“Reuniões e memorandos à parte, ele confia mais em seus instintos do que em instituições, procura fontes não convencionais por orientação e está disposto a desafiar uma sala cheia de conselheiros. Ele não tem um secretário de defesa confirmado pelo Senado há quase seis meses, e o secretário interino renunciou nesta semana. E aqueles conselheiros que ele tem estavam ocupados tentam passar uns por cima dos outros”, destaca o jornal, em referência à renúncia de Patrick Shanahan.

Segundo o NYT, Trump resistiu a uma resposta militar às repetidas provocações do Irã por semanas, até que, na hora em que acordou na manhã de quinta-feira, descobriu que um avião espião americano havia sido abatido. Desta vez orientado por John Bolton, seu assessor de segurança nacional, o presidente se deparou com a escolha de como responder.

Na manhã de quinta-feira, Trum se reuniu para o café da manhã na Casa Branca às 7 horas da manhã com Bolton e outros conselheiros militares, que lhe informaram sobre a possibilidade de um ataque.

Este quase aconteceu, até Trump, segundo o próprio, achar que o número de 150 vítimas era alto demais e “desproporcional” à derrubada do drone.

Iranianos furiosos

Outra informação, segundo um dos entrevistados pela reportagem, o general aposentado Jack Keane, que é próximo à Casa Branca, pode tê-lo ajudado a decidir.

O presidente foi informado que” líderes nacionais iranianos estavam frustrados ou furiosos com o comandante tático que tomou a decisão de abater o drone norte-americano”, disse o general. Entre aqueles que disseram estar com raiva, afirmou Keane, estava Qassim Suleimani, o poderoso comandante da Força de elite do Irã.

O general Keane disse que não está claro se o comandante que ordenou o abate estava operando dentro de sua autoridade para fazê-lo ou se agiu em violação das normas. Mas de qualquer forma, ele disse, Trump ficou impressionado por possivelmente arriscar uma escalada perigosa motivada por uma ação que não seria um ataque sob ordens dos principais líderes do Irã.

— O que foi decisivo para ele foi a comparação entre destruir baterias de mísseis e matar pessoas e abater um drone — afirmou o general Keane.

Após cancelar o ataque, afirmou o NYT, Trump ligou sua televisão para assistir à abertura do programa de Carlson, onde ele ouviu o que certamente deve ter soado como algo bem vindo. Na tela, Carlson declarou que “as guerras estrangeiras terminaram em fracasso sombrio para os Estados Unidos”.

Embora nenhuma decisão tenha sido anunciada, Carlson elogiou Trump por resistir à intervenção militar no Irã.

— As mesmas pessoas que nos atraíram para o atoleiro no Iraque há 16 anos estão exigindo uma nova guerra, essa com o Irã — disse o apresentador. — O presidente, para seu grande crédito, parece estar cético em relação a isso. Muito cético.

 

Texto: O Globo