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Ex-aluno dos bombeiros procura Justiça e denuncia tenente por tortura
O ex-aluno do que participou do 15º curso de Formação do Corpo de Bombeiros em 2015, Maurício Santos, é outra vítima que diz ter sofrido tortura e abusos por parte da tenente do Corpo de Bombeiros, Izadora Ledur, indiciada por tortura no caso que resultou na morte do aluno soldado Rodrigo Patrício Lima Claro, 21, em novembro de 2016.
Maurício disse que se não tivesse desistido do curso tem certeza que teria morrido nas mãos da tenente. A vítima já foi ouvida na Sétima Vara Criminal de Cuiabá e o caso é investigado pelo Ministério Público Estadual.
O curso que Maurício participou começou em julho de 2015. A turma se formou em maio de 2016, mas Maurício desistiu em março, após sofrer tortura por parte da tenente Ledur. Ele contou que até dezembro de 2015 o foco era nas disciplinas teóricas, mas com algumas atividades físicas, e sempre com a presença de punições.
“Durante este período a gente já presenciou muita coisa, teve gente que desistiu, teve gente que foi humilhada, teve o caso de uma menina que sofreu nas mãos da tenente Ledur. Alguns alunos sofriam pelas mãos de outros oficiais, mas esta menina, que até desistiu, foi por causa da tenente. A gente via mas era ameaçado, não podíamos falar nada, porque eles diziam que se falássemos iríamos pagar, porque estávamos nas mãos deles ali, e o objetivo de todo mundo era formar então todo mundo ficava quieto”, contou o ex-aluno.
Já em janeiro de 2016 foram iniciadas as atividades práticas, com aulas de salvamento aquático, salvamento em altura, terrestre, entre outras disciplinas. Maurício disse que no início as aulas não eram ministradas pela tenente Ledur.
“No começo eram com outros oficiais. Eu tinha dificuldade com água, então me preparava antes, em horários de folga, fazia treinamentos, e consegui melhorar um pouco. Eu tinha dificuldade sim, às vezes não conseguia chegar ao final, porém em nenhum destes momentos eu passei o que eu vim a passar depois nas mãos dela”.
No início do mês de fevereiro a tenente Ledur começou a ser responsável pela disciplina, e as aulas eram ministradas na lagoa Trevisan em Cuiabá.
“Na dos outros oficiais eu passei, no relatório mostra que fui aprovado. Aí começou as instruções com ela na lagoa Trevisan. E foi ali que ela destruiu meu sonho, acabou comigo, até hoje a gente sofre as consequências. E assim, a mesma coisa que aconteceu com o Rodrigo aconteceu comigo, a única diferença é que as sessões de afogamento do Rodrigo ela fez enquanto ele fazia a travessia, e comigo ela fez parado, no meio da lagoa. No dia desta instrução, que eu me vi obrigado a desistir do curso, porque se eu não fizesse isso, hoje eu posso dizer mais firme do que nunca, que eu não teria saído vivo”, contou Maurício.
De acordo com ele, o hábito da tenente era de levar os alunos a exaustão, fazendo também pressão psicológica, antes de iniciarem as práticas de salvamento.
“Além de ofensas verbais e tudo mais, que era o mais básico que ela fazia, ela começa a pegar por aí, pelo seu psicológico, ela leva você à exaustão para que quando você chegue dentro da água você não tenha todo o desenvolvimento que você precisa. E como ela sabia que eu tinha dificuldade, por mais que eu aguentasse tudo antes de entrar na água, quando chegava na água eu não tinha mais força”.
No dia em que sofreu a tortura e o afogamento, Maurício conta que seu pelotão já foi para a aula de Ledur após passar por treinamentos em outras disciplinas, e por isso estavam cansados. A rotina, segundo ele, era de acordar cedo e ir dormir tarde.
“No dia ela chegou xingando e mandou a gente fazer uma corrida em um período de tempo que não iria dar certo, porque as meninas, que são menores, não iriam conseguir fazer no tempo que ela estipulou, para que a gente chegasse atrasado. E aí começou a punição, antes de começar a travessia. Depois de mais de uma hora ela mandou a gente para a ponta da lagoa para entrar na água. Aí começamos a fazer a travessia e neste momento eu comecei a ter muita câimbra, não conseguia respirar direito, aí meus colegas começaram a me ajudar. E vieram outros oficiais e me atiraram uma bóia, para me ajudar na travessia. Já na metade da lagoa ela mandou me soltarem, aí eu fiquei sozinho com a boia e ela me chamou, e eu já esperava o que ela iria fazer”, disse.
Quando se aproximou da tenente, Maurício contou que ela o xingou e passou a corda da boia por seu pescoço e debaixo do seu braço e a partir daí começou a afogá-lo até ele começar a perder os sentidos.
“Em um momento eu fui tão fundo que quase não consegui voltar, e quando saí eu peguei nela e falei ‘pelo amor de deus para porque você vai me matar’, aí ela falou ‘você ta louco? Você está louco?’ gritando, porque um aluno encostou em uma oficial, e mau deu tempo de eu implorar para ela e começou a me afogar de novo, até eu desmaiar. Eu acordei quando já estava sendo tirado por um colega meu e por dois sargentos, e comecei a vomitar. E ela de dentro da lagoa gritava dizendo que era pra eu voltar, e eu falava para o meu colega que se eu voltasse ela ia me matar, e aí eu apaguei de novo”.
Uma ambulância acompanhava o treinamento e Maurício foi encaminhado para ela. Ele disse ter ouvido outros oficiais dizendo ser desnecessária a atitude da tenente. Maurício foi depois encaminhado para uma policlínica para ser atendido.
“Acordei de novo já na ambulância, deitado, no oxigênio, e escutei um sargento falando ‘meu deus por que ela faz isso se não tem necessidade’. Nisso o comandante do meu pelotão veio na minha ambulância e falou para os outros que tinha que tirar um outro aluno, porque se ela pegasse ele, ele não aguentaria, e trouxeram ele para ir comigo como acompanhante até a policlínica. Neste momento ela veio até onde eu estava, perguntar como eu estava, e falaram que iam me levar para o posto e ela disse ‘mas é um frouxo, é uma bichinha mesmo’, e fui para a policlínica, tomei medicação, fiquei um tempão, ninguém foi saber depois como eu estava”.
Maurício também contou que durante todo o curso os oficiais sempre diziam que nada aconteceria com eles, que mesmo se algum dos alunos morresse ou se ferisse que nada aconteceria porque eram militares.
Maurício desistiu do curso no dia da prova final de salvamento aquático. Ele passou mal durante o treinamento e temeu que fosse passar pela mesma situação que passou anteriormente. Depois que desistiu ele foi procurar a Justiça, mas encontrou algumas dificuldades.
“Na prova final de salvamento aquático, eu comecei a passar mal, e falei com o sargento que disse que eu deveria ter levado atestado então, e ali eu tive certeza que se eu tivesse ficado eu teria morrido. Depois que desisti eu procurei a Justiça, só que eu precisava de testemunha, só que os meu colegas estavam ainda no curso e queriam se formar, e eram ameaçados se contassem, então ninguém quis testemunhar, só depois que o curso acabasse. Depois que eu fui procurar de novo, com advogado, que aconteceu o caso do Rodrigo”, disse.
O caso está nas mãos da juíza Selma Rosane de Arruda, da Sétima Vara Criminal, e também é investigado pelo Ministério Público Estadual. Maurício afirmou que já prestou depoimento, no último mês de setembro.
Outro lado
A defesa de Ledur afirmou que não tem conhecimento do caso e que ainda não foram intimados pela Justiça.
Tortura que levou à morte
Rodrigo Patrício Lima Claro, de 21 anos, ficou internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e faleceu por volta de 1h40 do dia 16 de novembro. Ele teria sido dispensado no final do treinamento do curso dos bombeiros, após reclamar de dores na cabeça e exaustão. O Corpo de Bombeiros informou que já no Batalhão ele teria se queixado das dores e foi levado para a policlínica em frente à instituição.
Ali, sofreu duas convulsões e foi encaminhado em estado crítico ao Jardim Cuiabá, onde permaneceu internado em coma. O corpo de Rodrigo foi encaminhado ao Instituto Médico Legal, mas análise preliminares não apontaram a real causa da morte e por isso exames complementares serão realizados, de acordo com a perícia criminal.
Texto: Olhar Direto