Pai de 85 anos escreve poesias para presentear os filhos em Cuiabá

Sebastião Paes de Proença é um poconeano, de 85 anos, que descobriu o amor pela escrita depois de se aposentar. Como forma de guardar histórias e ensinar os filhos e netos sobre as próprias crenças e cultura, há cinco anos começou a passar para o papel, em forma de poesia, os relatos de vida. São em datas como o Dia dos Pais, com todos reunidos, que ele aproveita para presentear a família com as poesias dele.

Segundo a filha Elza de Proença Cassim, de 46 anos, Sebastião abandonou os estudos ainda na 5ª série do ensino fundamental. Apesar disso, sempre foi prestativo com as “crianças” da família que pediam ajuda, principalmente sobre a história de Mato Grosso. Tem cinco anos que faz tratamento contra hanseníase. Essa e outras doenças o deixaram debilitado, fato que o incentivou ainda mais a se dedicar à escrita.

Entre uma data comemorativa e outra, Sebastião aproveita a reunião da família para declarar as poesias. Segundo Elza, ele se também se inspira a escrever para presentear aniversariantes da família. O poeta faz questão de oferecer a prenda, em forma de poesia, a todos os filhos e netos, sem exceção.

De acordo com Elza, são centenas de poesias escritas à mão em um caderno. O trabalho dela é digitar todos os manuscritos. Para homenagear a filha prestativa, Sebastião escreveu um poema “Minha filha Elza”, no ano passado, na data do aniversário dela.

“No corre, corre do dia a dia e, em todos os momentos da vida de você, iremos lembrar nesta maravilhosa data o seu aniversaria queremos comemorar. Todos os filhos e filhas são amados e queridos e a todos iremos sempre amar, mas você é filha que às vezes exagera no cuidado com o pai e mãe a que vem dedicar. Que Deus e a mãe Imaculada com seu manto sagrado venha a lhe abençoar. (…)”, escreveu.

O poeta cresceu no Pantanal e teve uma vida simples. Há mais de 50 anos, Sebastião se apaixonou por uma jovem do município de Nossa Senhora do Livramento, a 40 km de Cuiabá, e se casou. Junto com a companheira de vida, Rita Figueiredo de Proença, de 80 anos, se mudou para Cuiabá, onde teve nove filhos, 14 netos e dois bisnetos. O amor e a gratidão pela capital mato-grossense são refletidos nas poesias dele, entre elas a denominada “Minha cidade querida”, escrita em 2013.

            “Que saudades tenho da velha Cuiabá.
             Com gesto de humildade e respeito uns aos outros o povo sabia tratar,
             Casas grandes, com muitas árvores frutíferas nos grandes quintais,
             Dom Aquino Corrêa deu o nome de Cidade Verde de Bom Jesus de Cuiabá,
             Além da beleza verdejante que nos trazia um oxigênio limpo para podermos respirar”

Segundo Elza, a mãe dela, dona Rita, não gosta muito na nova mania do marido e reclama do tempo dedicado às poesias. “Ela implica, pois ele passa o dia inteiro com as poesias dele. Ela queria que ele a ajudasse com os afazeres domésticos, mas ele não gosta disso. Ele gosta de escrever”, contou.

Na vida, Sebastião já fez de tudo um pouco. Foi um vendedor, trabalhou em concessionárias de veículos, foi feirante e atuou em postos de gasolina. Parado ele não ficava. Por ter deixado os estudos na quinta série, fez de tudo para não deixar faltar educação para os filhos. Pode vê-los se formarem nas áreas de saúde, administração, contabilidade, tecnologia da informação, agronomia. Na geração de netos surgiram médicos, enfermeiros e uma jornalista.

Para retribuir todo o esforço do pai, Elza e os irmãos sonham em publicar as poesias de Sebastião em um livro. “Nós não sabemos como fazer isso, mas vamos descobrir. Será uma forma de homenageá-lo ainda em vida”, frisou.

Texto: G1-MT