Policial Militar diz ser ‘arquivo vivo’ e pede proteção

O tenente-coronel da Polícia Militar José Henrique Costa Soares, que atuou como escrivão no inquérito policial militar (IPM) que apura o escândalo das interceptações telefônicas ilegais praticadas supostamente por membros da alta cúpula do governo e da PM, afirmou ser um “arquivo vivo” e que seu futuro na corporação está acabado. Por conta disso, ele pediu para fazer parte, juntamente com seu filho, do programa de proteção à testemunha.

O desabafo foi feito aos delegados Ana Cristina Feldner e Flávio Stringuetta após ele ter desistido de, por coação, ajudar investigados com vazamentos de informações. Ele chegou a gravar áudio de conversa com o desembargador Orlando Perri, relator do caso, e a ceder uma de suas fardas para instalação de uma câmera espiã, com o objetivo de captar imagens e falas do magistrado, que seriam usadas posteriormente pela organização criminosa para tentar afastar Perri do inquérito.

Aos delegados, ele contou que não conseguia mais dormir, mesmo contando com proteção policial e afirmou que teme pela integridade física dele e do filho, alegando que o grupo que o coagira seria capaz de tudo.

“Capaz de tudo, capaz de tudo. Sou um arquivo vivo, que para eles tem que está morto. A partir de agora, com certeza. Não tenho garantia, a não ser que o Estado me dê garantias de que essa segurança vai acontecer, inclusive eu peço que me inclua no sistema de proteção à testemunha”, disse ao ser interrogado sobre o potencial dos investigados.

Soares ainda chegou a dizer que não pode mais permanecer em Mato Grosso, uma vez que sua situação está delicada tendo em vista estar relacionada com o poder atual do Estado. “Então eu fico muito preocupado com a segurança do meu filho, eu estou muito preocupado com a segurança dele. Depois dele a minha. Eu não posso permanecer no Estado. Eu não posso permanecer no Estado de Mato Grosso, a situação envolve o poder atual. Eu peço, inclusive, minha inclusão neste programa de proteção à testemunha. Não tenho mais vida na Polícia Militar, profissionalmente falando”, asseverou.

Conforme apurado, foram os depoimentos de José Henrique Soares que possibilitaram a deflagração da operação Esdras, na última quarta-feira (27), quando oito pessoas foram presas acusadas de tentar obstruir a justiça, ou seja, atrapalhar as investigações.

Os alvos das prisões preventivas foram o secretário de Estado de Justiça e Direitos Humanos, coronel Airton Siqueira; o secretário afastado de Segurança Pública Rogers Jarbas, o ex-chefe da Casa Militar, coronel Evandro Lesco; a mulher deste, a personal trainer Helen Christy Lesco, o ex-chefe da Casa Civil Paulo Taques, o empresário José Marilson da Silva, o major Michel Ferronato e o sargento Ricardo Soler. O coronel e corregedor da PM Carlos Eduardo Pinheiro da Silva foi conduzido coercitivamente para prestar esclarecimentos.

Texto: Gazeta Digital