Preso após delação, procurador infiltrado da JBS é denunciado

Preso durante a deflagração da Operação Patmos, o procurador Ângelo Goulart Villela, acusado de vazar informações sigilosas para a JBS e delatado por Joesley Batista, foi denunciado pela Procuradoria Regional da República da 3ª Região (PRR3) por corrupção passiva, violação de sigilo funcional e obstrução à investigação.

O Ministério Público também denunciou o advogado Willer Tomaz de Souza. Teria sido ele o responsável por cooptar o procurador.

Na delação da JBS, o executivo Joesley Batista afirmou que Ângelo Goulart Villela teria recebido valores para repassar informações das investigações nas quais o empresário figurava como investigado. Villela foi preso no dia seguinte à revelação, pelo GLOBO, do conteúdo da delação de Joesley Batista.

A atuação a favor da JBS foi relatada à Procuradoria-Geral da República pelo presidente da empresa, Joesley Batista. O empresário apresentou documentos e provas e também participou de ações controladas autorizadas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Edson Fachin. Em razão da colaboração de Joesley, a Procuradoria deixou de oferecer denúncia contra ele e o diretor jurídico do grupo, Francisco de Assis.

A denúncia contra ambos foi feita em São Paulo porque o procurador, embora estivesse cedido à Procuradoria-Geral da República, tem lotação na Procuradoria da República em Osasco. A lei determina que procuradores sejam processados no Tribunal responsável pelo local de sua lotação.

Além disso, o Ministério Público Federal também pediu que seja remetida a cópia dos processos para o Tribunal Regional Federal da 1ª Região para que seja apurada os fatos relacionados ao juiz federal Ricardo Leite.

Joesley falou com Temer sobre procurador

Em seu encontro com o presidente Michel Temer, Joesley Batista contou ao presidente que estava interferindo nas investigações contra a JBS controlando integrantes do Poder Judiciário, como juizes e um procurador. Ao afirmar que estava “segurando” os dois juizes (titular e substituto) que comandavam seu caso, Temer respondeu a Batista: “ótimo, ótimo”.

Joesley contou também a Temer que recebia informações sigilosas de um procurador.

— Eu consegui o delator dentro da força-tarefa, que está… também está me dando informação. E lá que eu estou… Dá conta de trocar o procurador que está atrás de mim. Se eu der conta, tem o lado bom e o lado ruim. O lado bom é que dou uma esfriada até o outro chegar e tal. O lado ruim é que se vem um cara com raiva, com não sei o quê…

Após um trecho inaudível do áudio, Joesley insistiu:

— O (procurador) que está me ajudando tá bom. Beleza. Agora o principal é o que está me investigando. Eu consegui (inaudível) um no grupo. Agora “tô” tentando trocar…

— O que está (inaudível) — disse Temer.

Em nota, à época, o presidente afirmou que o encontro com o empresário Joesley Batista ocorreu, mas não houve no diálogo nada que comprometesse a conduta do presidente da República. Em pronunciamento público, Temer afirmou que Joesley era um “conhecido falastrão”.

“O presidente defende ampla e profunda investigação para apurar todas as denúncias veiculadas pela imprensa, com a responsabilização dos eventuais envolvidos em quaisquer ilícitos que venham a ser comprovados”, afirmou o presidente no seu comunicado.

Texto: O Globo