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Sorriso lidera valor de produção em 2020
O valor da produção das principais culturas agrícolas do país atingiu o recorde de R$ 470,5 bilhões em 2020, um crescimento de 30,4% frente ao ano anterior, quando somou R$ 361 bilhões. É o maior aumento desde 2003 (34,0%). O resultado positivo se deve, principalmente, à elevação do valor da produção da soja, do milho, do café e do algodão. Com crescimento de 35,5% frente ao ano anterior e gerando R$ 5,3 bilhões, Sorriso segue como o município brasileiro com maior valor da produção agrícola, seguido por São Desidério, na Bahia, destaque na produção de soja, milho e algodão. Os dados são da pesquisa Produção Agrícola Municipal (PAM), divulgada pelo IBGE.
O supervisor da pesquisa, Winicius de Lima Wagner, explica que o aumento do valor da produção agrícola é em parte relacionado aos efeitos da pandemia de Covid-19 no setor. “Esse resultado se deve a dois fatores distintos: o primeiro deles foi o recorde na produção de grãos, que abrange o grupo de cereais, leguminosas e oleaginosas, totalizando 255,4 milhões de toneladas; o segundo foi a elevação dos preços das culturas agrícolas, provocada, também, pela alta demanda durante a pandemia. Isso fez com que o setor fosse beneficiado em um ano marcado pela crise econômica, que afetou os demais setores”, diz o pesquisador.
A soja, principal commodity do país, chegou à produção de 121,8 milhões de toneladas, aumento de 6,5% frente à safra anterior e gerou um valor bruto de R$ 169,1 bilhões. Isso representa um crescimento de 35% em relação ao valor obtido em 2019. A oleaginosa passou a responder por 57,2% do valor da produção total dos grãos. Em 2020, o grupo de cereais, leguminosas e oleaginosas alcançou o segundo recorde consecutivo em quantidade produzida.
“Apesar do atraso na janela de plantio da soja, causado pela demora das chuvas no fim de 2019, o desempenho desse grão não foi prejudicado. Os fatores climáticos foram favoráveis em quase todo o país, com exceção do extremo sul, o que explica o aumento da produtividade da soja no país em 2020”, afirma Winicius.
Em 2019, o Brasil se tornou o maior produtor de soja do mundo, ao ultrapassar os Estados Unidos e, em 2020, se manteve no topo do ranking. Com as boas condições climáticas, Mato Grosso, maior produtor nacional de soja, somou 35,1 milhões de toneladas (28,8% do total) e superou em 8,8% a safra de 2019. Foi também o estado com maior valor da produção agrícola, somados todos os produtos levantados pela pesquisa, ao atingir o recorde de R$ 79,2 bilhões.
“Em 2019, houve problemas climáticos em uma região entre os estados de Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná que acabaram prejudicando a safra naquele ano. Em 2020, tanto nessa região como em todo o Centro-Oeste, as condições climáticas foram favoráveis. Então, podemos afirmar que o desempenho da produção da soja no país foi melhor do que no ano anterior, apesar dos problemas de estiagem no Rio Grande do Sul”, explica.
Entre os grandes estados produtores do grão, somente o Rio Grande do Sul teve grande queda de produtividade (-40,6% no rendimento médio) no ano passado. O estado, que registrou o terceiro maior valor da produção com a cultura em 2019, perdeu a posição para o Paraná, que produziu 20,9 milhões de toneladas de soja em 2020. Com um total de R$ 59,8 bilhões, o estado passou a representar 12,7% do valor da produção total do país, atrás apenas de Mato Grosso (16,8%) e São Paulo (14,5%). Os três estados registraram recorde no valor da produção agrícola.
“Em 2019, o noroeste do Paraná enfrentou problemas de estiagem no período produtivo. Com isso, o estado teve a produção prejudicada e acabou perdendo a posição para o Rio Grande do Sul. No ano passado, foi o sul do Rio Grande do Sul que enfrentou esses problemas climáticos e o Paraná retomou a terceira posição no ranking dos estados com maior valor da produção”, diz.
Entre as outras commodities que se destacaram em 2020 está o milho, cuja produção aumentou 2,8%, totalizando 104 milhões de toneladas. Esse grão passou a ser o segundo produto com maior valor da produção, à frente da cana-de-açúcar. “O milho já vem batendo recorde ano após ano. As condições climáticas em 2020 foram novamente favoráveis e o preço desse produto já vinha em alta, o que acabou incentivando os produtores a expandirem a área de produção e investirem em tecnologia”, afirma Winicius, destacando ainda que os preços do grão no mercado internacional continuaram subindo, o que gerou aumento no valor da produção. Somadas as duas safras, o valor gerado pelo milho foi de R$ 73,9 bilhões, acréscimo de 55,4% ao registrado no ano anterior.
A cana-de-açúcar também teve aumento em seu valor da produção, que chegou a R$ 60,8 bilhões em 2020. Houve um crescimento de 0,5% em seu volume de produção, totalizando 757,1 milhões de toneladas. Nos últimos anos, o aumento da produção de etanol e a ampliação da participação do país no mercado internacional de açúcar influenciaram a indústria nacional de álcool. A cana-de-açúcar, então, cujas áreas de cultivo chegaram a dobrar nas três últimas décadas, aumentou o seu volume de produção em 188,2% entre 1990 e 2020.
Mas, de acordo com o pesquisador, as áreas destinadas ao plantio da cana-de-açúcar vêm passando por estagnação. Em 2020, a área de cultivo desse produto foi reduzida em 0,9%. A cana, importante produto de exportação do país, vem perdendo espaço para outras culturas como o milho e a soja, que são mais rentáveis para os produtores. “Há seis anos, acompanhamos essa estagnação e até redução das áreas de cultivo da cana, em decorrência, principalmente, da mecanização da produção e da concorrência com outras culturas que vêm apresentando melhores valores no mercado. Há áreas produtivas no Brasil que apresentam dificuldades na adaptação da colheita mecanizada da cana, fazendo com que os produtores optem pelo plantio de outras culturas”, diz Winicius.
Aumento da demanda de arroz e feijão na pandemia impactou crescimento no valor da produção
O arroz e o feijão foram dois dos produtos que tiveram grande variação de preços em 2020. “Com a pandemia de Covid-19 e as medidas de isolamento social, houve aumento da demanda, uma vez que muitos consumidores estocaram esses produtos em casa. Os preços, consequentemente, subiram, aumentando assim o valor da produção de maneira significativa, fazendo com que o produtor tivesse uma rentabilidade maior”, explica Winicius.
De acordo com o pesquisador, esses fatores, somados à valorização do dólar frente ao real e à consequente atratividade do produto no mercado internacional, explicam o crescimento de 32,7% no valor da produção do arroz, que atingiu R$ 11,6 bilhões. Já o feijão gerou R$ 10,8 bilhões, um aumento de 44,2% frente ao valor da produção da leguminosa em 2019. Também houve crescimento na produção de 4,4%, totalizando 3,0 milhões de toneladas. Embora tenha registrado retração de 1,8% em sua produção, o Paraná segue como principal produtor do feijão no país, ao colher 624,6 mil toneladas.
Outra cultura com produção recorde foi o algodão herbáceo, que atingiu 7,1 milhões de toneladas, um aumento de 2,6% em relação ao ano anterior. “Em 2018 e 2019, o crescimento do algodão foi pautado especialmente pela ampliação das áreas. Como já havia estoques elevados no mercado mundial, em 2020, as áreas não foram ampliadas, mas houve um incremento da produtividade que fez com que esse recorde na série histórica fosse alcançado”, diz o pesquisador. Com esse crescimento, o valor da produção da fibra chegou a R$19,1 bilhões, crescimento de 19,5% frente a 2019.
Houve redução de 2,2% na produção da laranja, que chegou a 16,7 milhões de toneladas. Apesar do recuo, o valor da produção dessa fruta aumentou 14,3%, totalizando R$10,9 bilhões. A mesma situação ocorreu com a banana, que teve sua produção reduzida em 2,8% e seu valor da produção cresceu 14,5%, chegando a R$ 8,6 bilhões.
“Como 2020 foi um ano marcado pela subida dos preços, que foi um dos efeitos da pandemia, tanto na desvalorização do real quanto do aumento do consumo doméstico de produtos alimentícios, os preços da maior parte desses produtos subiram e o valor da produção deles acompanhou esse crescimento”, explica o analista da pesquisa.
Valor da produção do café aumenta 54,4%
A produção de café no país somou 3,7 milhões de toneladas em 2020, um crescimento de 22,9% quando comparado ao ano anterior. O valor da produção gerado foi de R$ 27,3 bilhões, aumento de 54,4%. O pesquisador explica que 2020 foi um ano de bienalidade positiva para o café arábica, fenômeno que ocorre a cada dois anos, quando as plantas apresentam produtividade superior, e que houve aumento de preço no mercado internacional. “Isso justifica o aumento expressivo no valor da produção”, afirma Winicius. A produtividade do café arábica foi 28,7% superior à safra de 2019. Já o café canephora recuou 5,0% na sua produção, totalizando 870,6 mil toneladas.
A maior parte do café produzido no país é do tipo arábica. Em 2020, esse tipo de café representou 76,5% do total produzido, com 2,8 milhões de toneladas. O valor da produção gerado foi de R$ 22,6 bilhões, 66,3% a mais do que no ano anterior. Com crescimento de 38,3% na produção, Minas Gerais foi responsável por 72,2% de todo o café arábica colhido pelo país no ano. O estado produziu 2,0 milhões de toneladas e chegou a um valor da produção de R$ 16,5 bilhões. São Paulo, segundo maior estado produtor de café arábica, teve crescimento de 18,8%, atingindo 344,6 mil toneladas e chegando ao valor da produção de R$ 2,9 bilhões.
Já a retração no volume do café canephora não prejudicou o seu valor da produção, que aumentou 14,8% frente a 2019, totalizando R$ 4,7 bilhões. Três estados foram responsáveis pela maior parte da produção: Espírito Santo, Rondônia e Bahia.
Centro-Oeste tem crescimento de 35,6% no valor da produção agrícola
Entre a grandes regiões, o Centro-Oeste continuou como responsável pelo maior valor da produção nacional, ao totalizar R$ 146,3 bilhões, com crescimento de 35,6% frente ao alcançado em 2019. Mato Grosso, estado com maior valor da produção nacional, gerou R$ 79,2 bilhões. O segundo estado com maior valor da produção na região foi Goiás, que totalizou R$ 36,2 bilhões. Ambos os estados se destacam na produção de soja e milho.
A soja e o milho também foram as culturas que geraram maior valor da produção no Nordeste, região que teve aumento em sua produção e gerou R$58,3 bilhões. A região conhecida como Matopiba, que abarca o Tocantins e parte dos estados do Maranhão, Piauí e Bahia, se destaca na produção desses grãos. Já a cana-de-açúcar, produto tradicionalmente cultivado no Nordeste, ficou em terceiro lugar entre os que geraram os maiores valores da produção na região.
No Norte e no Sul, a soja também foi o principal cultivo agrícola. O maior valor da produção entre os estados nortistas foi registrado pelo Pará, que teve crescimento de 45,2% em 2020. Igarapé-Miri, município paraense que se destaca pela produção de açaí, segue com o maior valor de produção regional: R$ 1,6 bilhão, um crescimento de 79,8% no ano.
Já entre os municípios sulistas, o destaque ficou com Guarapuava, no Paraná, que gerou R$ 1,2 bilhão. A principal cultura cultivada no município é a soja. O Sudeste foi a única região em que essa oleaginosa não foi o principal produto cultivado. Com alta de 28,2% no valor da produção, ao gerar R$ 124,6 bilhões, a região se destacou no cultivo da cana-de-açúcar. Já o município do Sudeste com maior valor da produção foi Itapeva, que se destacou no plantio da soja, e gerou R$ 2,4 bilhões.
Valor gerado por Sorriso, em Mato Grosso, cresceu 35,5% em 2020
Dos 50 municípios com maiores valores da produção agrícola no país, 20 pertenciam a Mato Grosso. Sorriso (MT), município que respondeu, sozinho, por 1,1% do valor da produção nacional, registrou R$ 5,3 bilhões, crescimento de 35,5% frente ao ano anterior. Com isso, conservou o primeiro lugar entre aqueles com maior valor da produção. Além da soja, Sorriso se destacou no cultivo do milho e do algodão.
O segundo maior valor da produção foi registrado por São Desidério, na Bahia, que também cultiva soja, milho e algodão. O valor gerado pelo município teve crescimento de 44,6%, atingindo 4,6 bilhões. Já Sapezal (MT), que em 2019 havia registrado o segundo maior valor da produção entre os municípios, ficou em terceiro lugar no ranking. Com crescimento de 26,7%, o município totalizou R$ 4,3 bilhões em valor bruto.
“São Desidério se destaca principalmente na cultura de soja, enquanto Sapezal tem como principal cultura o algodão. Como o aumento da soja foi superior ao crescimento do preço do algodão, isso pode explicar o avanço de São Desidério no ranking de maior valor da produção agrícola”, analisa Winicius.
Outro município que se destacou na edição de 2020 da PAM foi Formosa de Rio Preto, também na Bahia. Com crescimento de 78,3% em valor bruto gerado, a cidade, que obteve significativos avanços com a produção de soja, algodão, milho e sorgo, ficou em quinto lugar entre os municípios com maior valor da produção. No ano anterior, havia assumido a 11ª colocação.
Já Maracaju, em Mato Grosso do Sul, que em 2019 apareceu na 14º posição no ranking dos municípios com maior valor da produção, teve crescimento de 103,2% nesse indicador e alcançou a oitava posição.