Até Papai Noel rendeu propina a Roseli Barbosa na gestão de Silval

Durante a gestão Silval Barbosa, entre 2010 e 2014, nem mesmo os eventos e ações sociais deixavam de ser oportunidade para práticas de corrupção e obtenção de vantagem indevida. Segundo a ex-primeira dama e ex-secretária de Estado de Trabalho e Assistência Social Roseli Barbosa, a empresária que fazia a organização do Natal Encantado, do Auto da Paixão de Cristo e do Casamento Comunitário, Carlina Jacob, pagou em torno de R$ 600 mil em propina.

O valor é referente ao período de três anos de contrato com o Estado. O dinheiro teria sido utilizado por Rodrigo de Marchi, então assessor de Roseli, para pagar convites, rifas, passagens que eram solicitadas à pasta, e até o salário do Papai Noel, mesmo fora do período de Natal. Outro montante era entregue por Rodrigo a Roseli, que usava o dinheiro para despesas pessoais.

As declarações foram feitas por Roseli Barbosa à procuradora da República Vanessa Zago, no dia 29 de maio deste ano, em sua delação premiada.

A ex-primeira dama afirma que chamou Carlina Jacob para atuar em convênio com a Secretaria de Estado de Trabalho e Assistência Social (Setas) porque já conhecia seu trabalho desde o tempo em que atuava na Sala da Mulher, na Assembleia Legislativa.

Segundo Roseli, no início da execução do convênio, não houve nenhuma tratativa quanto a pagamento de propina e que os serviços eram prestados normalmente. A esposa de Silval Barbosa afirma que só passou a pedir “retorno” da empresária após o segundo ou terceiro contrato, alegando que seria para auxiliar na demanda de assistência social.

Carlina teria concordado com o pagamento de “retorno” do contrato, chegando a dizer a Roseli que poderia ajudá-la com valor do lucro que receberia, mas sem combinar nenhum valor específico, conforme a delação. O documento ainda revela que a cada evento promovido por Carlina para o Estado, ela repassava entre R$ 100 mil e R$ 150 mil para Roseli Barbosa.

Os pagamentos de propina eram feitos por intermédio do assessor de Roseli, Rodrigo de Marchi, que é apontado pela delatora como responsável também pelo recebimento de propina de outras empresas ligadas a Setas, como a Seligel, que segundo a delatora, fazia repasses de R$ 10 mil desde a gestão anterior para auxiliar nas despesas extras de seu gabinete.

Conforme a delação, os pagamentos eram feitos por meio de depósitos nas contas das empresas de Paulo César Lemes (Mega Ponto, Três Américas, Mathice e São Benedito), que eram indicadas a Carlina por Rodrigo de Marchi.

No entanto, Roseli diz que Rodrigo não havia lhe contado nada e que só tomou conhecimento dessa forma de pagamento pela própria Carlina, após a deflagração da operação Arqueiro/Ouro de Tolo, em 2014, quando teria sido procurada pela empresária, que estava preocupada e querendo saber se Paulo César Lemes, delator do processo, havia citado seu nome.

Carlina afirma que foi enganada por Roseli

Ao Gazeta Digital, Carlina Jacob afirmou que está surpresa, chocada, chateada, decepcionada e se sentindo enganada por Roseli Barbosa pois, à época, nunca imaginou que os pedidos de ajuda para a promoção de ações beneficentes pudessem ser utilizadas para a prática de corrupção.

Ela diz que a história foi completamente deturpada pela ex-primeira dama e nega que tenha ido trabalhar para o governo por convite de Roseli Barbosa, afirmando que ingressou na Setas por meio de uma licitação extremamente concorrida à época e que esta foi sua única experiência com o setor público.

A empresária diz que “usaram e abusaram” de sua boa vontade porque sempre trabalhou com eventos beneficentes e acabou sendo vítima de um quadro de corrupção. “Eu jamais imaginaria que uma primeira dama estaria envolvida em corrupção. O Estado recebeu de mim muito mais do que comprou porque eu gosto do eu faço. Tenho trabalho no Brasil inteiro, um trabalho premiado e reconhecido”, disse.

Segundo Carlina, em nenhum momento conversou sobre propina com Roseli Barbosa, que esta apenas lhe procurava para pedir ajuda com benfeitorias, ao que ela atendia sempre que podia com os depósitos que eram feitos na conta de Paulo César Lemes a pedido de Rodrigo de Marchi.

Carlina acrescenta que após a operação Arqueiro/Ouro de Tolo, em 2014, ela procurou sim Roseli, mas para tomar satisfação sobre o destino que havia sido dado às doações que havia feito e que disse à então primeira-dama que iria ao Ministério Público esclarecer os fatos. Diante disso, Roseli Barbosa teria chorado e pedido um tempo para falar com seu advogado e resolver a questão.

Carlina afirma sua honestidade e lisura de seu trabalho e de suas doações, dizendo que não tinha como saber o que foi feito com o dinheiro. Ela assevera que vai procurar o Ministério Público para esclarecer o caso e ainda processar Roseli Barbosa.

A reportagem telefonou para a empresa Seligel, mas não teve as chamadas atendidas. Não foi possível localizar os contatos de Rodrigo de Marchi e Paulo César Lemes.

Texto: Gazeta Digital