Coronel da PM avalia que tornozeleiras precisam de fiscalização intensa

Há três anos o sistema de monitoramento, através de tornozeleiras eletrônicas foi instalado em Mato Grosso. Segundo dados da Secretaria de Justiça (Sejudh) mais de 2,4 mil pessoas utilizam o aparelho, sendo que de 7% a 10% dos usuários reincidem na prática de crimes. Este número salta para 80% entre os detentos que não passam pelo processo de ressocialização. Em grande parte dos casos, a Polícia Militar é quem faz as prisões dos reincidentes, já que atua da prevenção e repressão do crime.

A Subchefia de Estado Maior Geral da Polícia Militar, coronel Henrique Correia da Silva Santos, de 36 anos, afirmou que não compete às autoridades policiais manter a pessoa presa. Segundo ele, o projeto da tornozeleira é bom, no entanto falta fiscalização. Em entrevista ao Olhar Direto, durante apresentação dos números da produtividade, no primeiro trimestre de 2018, ele disse que a PM irá prender um criminoso 1, 20 ou até mesmo 50 vezes,  se for preciso. 

Coronel Henrique é comandante-adjunto, é o terceiro na hierarquia da instituição. Ingressou na PM mato-grossense em 1995, por meio de concurso público para o Curso de Formação de Oficiais (CFO). É piloto militar e por longo período comandou o Comando Integrado de Operações Aérea (Ciopaer). Além da experiência e conhecimento técnico em operações aéreas de policiamento, socorro e resgate, o militar também atuou em outras áreas da PM. Comandou, entre outras, a Companhia de Chapada dos Guimarães, entre 1998 e 1999, e o Batalhão de Trânsito, em 2005.

Como você avalia esses seis meses frente ao cargo de Subchefia de Estado Maior Geral da Polícia Militar?
 
Eu avalio de forma positiva. A gente está desde o ano passado, junto do Comando do coronel Cunha. Os números têm melhorado. A gente tem um grande desafio, que é tentar fazer mais, com menos. Cada ano que passa nosso efetivo vai diminuindo, mas a gente tem conseguido através de operações, de gestão de pessoas, fazer que mesmo com menos, a presença da polícia seja maior nas ruas. Essa presença maior tem nos ajudados nos índices criminais. A gente tem conseguido passar um pouquinho para a sociedade essa sensação de segurança.  Teve menos registro de ocorrências, relacionadas a roubos e furtos, então isso é positivo.  A gente vê como um trabalho positivo que a Polícia Militar tem feito, e tem conseguido atingir seu objetivo, que é levar segurança à sociedade. Lógico, que o crime zero, que seria o objetivo de todo mundo, mas não depende só de nós. Mas aquilo que a Polícia Militar poder fazer, ela vai fazer. Ela vai se esforçar, nossos policiais são esforçados, tem esse compromisso de trabalhar em prol de sociedade.
 
Ainda tem muitas metas para atingir?
 
Com certeza. As metas na verdade não são minhas, são metas da polícia. Elas são: cada vez mais a gente conseguir colocar policiais na rua, fazer com que a Polícia Militar seja vista pelas pessoas como uma força amiga, que ela seja respeitada, e que aquelas pessoas que pensam em cometer algum crime, pensem duas vezes antes de fazer. Pois sabendo que a mão forte da Polícia Militar vai alcançá-lo.
 
O que precisa melhorar na Polícia Militar, onde os investimentos deveriam ser feitos?
 
Quanto mais efetivo a gente tiver, mais a gente consegue produzir. A gente não pode é ficar pelos cantos reclamando que não tem efetivo. Tem que fazer o que conseguimos. Agora, se a gente tiver mais efetivo é melhor. Se tiver mais viaturas é melhor. Tudo que vier para somar na estrutura da  Polícia Militar vai ser bem-vindo. Tanto é que conseguimos dar um salto de qualidade de 2015 para cá, com os investimentos que o Governo fez. Foram às contratações de policiais, aumento de viaturas. Foi bom? Foi sim. É suficiente? Nunca é. Se a gente pudesse ter 10 mil homens, 15 ou 20, eu gostaria de ter a minha disposição, para fazer uma operação. Mas a gente vai trabalhando com aquilo que tem. A gente também sabe que o Governo está sensível. Tanto que fez as contratações, fez o aumento e assim que tiver condições ele vai dar mais estrutura para a  Polícia Militar
 
Qual é o efetivo hoje da Polícia Militar?
 
Hoje o efetivo é em torno de 7,5 mil policiais.
 
Qual seria o ideal para nosso Estado?
 
O que é previsto em nosso quadro são 11 a 12 mil policiais. Então, a gente tem um déficit de quatro mil policiais hoje. Ainda deveria ser cumprindo, mas a gente tem conseguido bons resultados com esse efetivo. Lógico, que se a gente tiver mais, os resultados serão melhores, é sempre proporcional. Mas também não podemos ficar reclamando que não tem efetivo. O efetivo é bom, e com ele a gente tem conseguido fazer um bom trabalho.
 
Sobre a relação da PM com a sociedade, houve mudança? Em bairros periféricos, essa relação sempre foi muito conturbada, havia certo receio, medo. Como mudar essa ‘primeira impressão’ com a sociedade?
 
A gente tem investido muito em projeto social. A  Polícia Militar tem dado importância aos projetos, começando das crianças, pois eles serão os adultos do futuro e vão ver a PM sem medo, vão ver como uma parceira. Tem projetos sociais no estado inteiro. Em Cuiabá, os mais fortes são o judô Bope e Jiu-jitsu Rotam. No Pedra 90 tem o projeto social do batalhão, tem projeto na academia de Polícia Militar em Várzea Grande, tem Proerd e policiamento nas escolas. Isso é um trabalho em longo prazo, que vai mudar a imagem da polícia.
 
Muitas vezes, quando a PM prende algum criminoso, dias depois ele acaba solto, através de audiência de custódia. O senhor acredita que a PM está ‘enxugando gelo’?
 
O projeto da tornozeleira é muito bom. Lógico, tem tido suas dificuldades. A gente enxerga que a falta de fiscalização tem causado isso ai. Se a Polícia Militar tiver que prender a pessoa dez vezes, vai prender. Até porque não compete a nós deixar essa pessoa presa. Já não é mais obrigação da polícia. Se tiver que prender 1, 20 ou 50 vezes a mesma pessoa, a gente vai prender, com ou sem tornozeleira.
 
Como a Polícia Militar atua hoje na prevenção e repressão das drogas, especialmente nas fronteiras e regiões metropolitanas?
 
A polícia tem aumentado o número de operações, e ações de inteligência, além das divulgações dos números de disk-denúncia. Isso tem facilitado às apreensões de droga. Principalmente na droga, a denúncia é muito importante.  Então a gente tem focado nisso e no trabalho de inteligência que tem nos dado resultados positivos. Isso tem feito realmente uma produtividade com relação às apreensões de droga.
 
A operação Ordem Pública, que tem como objetivo combater facções criminosas vai ser estendida para o interior?
 
É uma operação que a Polícia Militar tem encabeçado, e tem participação da Polícia Civil, e da Prefeitura. Ela visa o reforço no policiamento de varias regiões do Estado. Inicialmente começamos por Cuiabá e vamos estender por Várzea Grande, e também para os demais municípios. A intenção é dar mais sensação de segurança as pessoas, e também combater as facções criminosas.
 
E falando em facções criminosas, como está o ‘sufoco’ com elas?
 
Continua. A Polícia Militar vai manter suas ações. A gente quase triplicou o número de operações no primeiro trimestre deste ano, comparados ao mesmo período deste ano, justamente por conta das facções. Isso tem um tratamento especial da Polícia Militar.  A gente quer mostrar para a sociedade que ela tem que confiar da  Polícia Militar. Pois ela que vai dar segurança para as pessoas.
 
Nesta produtividade, o que surpreende, o que saiu do roteiro, o que destacar, principalmente?
 
Destacar as apreensões de droga, que foi expressivo o aumento. Houve também aumento da apreensão de simulacros. Os criminosos têm usado essas armas de brinquedo, e até armas não letais para praticar os crimes. Houve também, graças às operações, diminuição de roubos e furtos. Associamos essa redução, as operações e a presença da polícia.
 
Gostaria de deixar algum recado?
 
Eu gostaria de dizer que a Polícia Militar está trabalhando em prol da sociedade. Gostaria que as pessoas confiassem da polícia. Ela é o braço armado e forte do Estado, e está para defender as pessoas de bem.
 

Texto: Fabiana Mendes/Olhar Direto