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Empresários de MT são presos por esquema na Saúde de SP
A Operação Sanctorum, realizada pela Polícia Civil, prendeu, nesta quinta-feira (2), três homens acusados de participarem de um esquema de desvio de verbas provindas de emendas parlamentares destinadas a hospitais filantrópicos, com a compra superfaturada de equipamentos médico-hospitalares. Gilmar Aparecido Alves Bernardes foi preso em Presidente Prudente. Já Ronildo Pereira de Medeiros e Luiz Antônio Trevisan Vedoin, que já haviam sido presos na Operação Sanguessugas em 2006, foram detidos em Cuiabá (MT).
Em Presidente Venceslau, os policiais civis realizaram buscas e apreensões na Santa Casa, na residência e escritório do provedor do hospital, Antonio José Aldrighi dos Santos. Já em Cuiabá, a Operação, além das prisões nas casas de Medeiros e Vedoin, também deu cumprimento a mandados de buscas e apreensões.
“As investigações apuraram que o grupo coopta provedores de hospitais filantrópicos, muitas vezes com a promessa de pagamento de vantagem indevida e, em seguida, com a liberação dos recursos, a mesma organização empresarial criminosa ingressa na venda dos produtos por meio de empresas ‘fantasmas’ registradas em nome de ‘laranjas’, com a venda de produtos em valor muito superior ao de mercado, isso quando efetivamente ocorre a entrega”, apontou a Polícia Civil.
Contudo, ainda não se sabe se isso ocorreu ou como houve o pagamento ao provedor Antonio José Aldrighi dos Santos, da Santa Casa de Presidente Venceslau. Por enquanto, foi apurado que houve a compra de equipamentos superfaturados, além de medicamentos e produtos hospitalares que constam em notas fiscais emitidas por uma empresa fantasma, totalizando cerca de R$ 800 mil, mas que nunca entraram no estoque do hospital.
Esses indícios foram confirmados pelo provedor Santos, em confissão ocorrida no dia 26 de maio de 2016, na sede da Central de Polícia Judiciária (CPJ) de Venceslau, “o que revela um extenso esquema criminoso voltado a solapar o diminuto e sagrado patrimônio do Estado voltado ao precário sistema de saúde do Brasil, que tem como elo importante, as Santas Casas como integrantes do Sistema Único de Saúde”.
“As investigações de Polícia Judiciária demonstraram, ainda, que no início de 2012, Ronildo Pereira de Medeiros, agindo com o cooptador para a área do Estado de São Paulo e Norte do Paraná, Gilmar Aparecido Alves Bernardes, realizaram uma reunião no Hotel Colúmbia, na cidade de São Paulo, em que participaram Antonio José Aldrighi dos Santos e outros vinte provedores de hospitais públicos e filantrópicos, quando então os provedores e diretores entregaram uma lista de equipamentos de interesse aos nosocômios, ao assessor do então deputado federal e líder do governo federal, à época, Cândido Elpídio de Souza Vaccarezza”, pontua a corporação.
Ainda segundo a polícia, os participantes saíram da reunião cientes de que com a liberação das verbas as compras deveriam ser realizadas diretamente das empresas indicadas por Medeiros, sendo estas as instituições fantasmas gerenciadas pelo empreendimento criminoso. Para Santa Casa de Presidente Venceslau, a promessa inicial consistia na liberação de R$ 2,8 milhões, quantia que acabou sendo reduzida a R$ 800 mil.
“Não bastasse as evidentes práticas de malversação dos fundos públicos, os integrantes da organização criminosa agem com o nítido pensamento de que as quantias destinadas aos hospitais filantrópicos lhes pertencessem, pelo que, ao que consta, passaram a promover ameaças de morte ao provedor da Santa Casa de Presidente Venceslau, tão logo souberam de que não ocorreria o pagamento inicial por conta daquele ato proveniente do Governo do Estado de São Paulo que, por motivos de saúde financeira e orçamentária, alterou a natureza das verbas incorporadas ao patrimônio estadual para exclusivamente custeio”, salientou a Polícia Civil.
A investigação também verificou que após o repasse dos valores às contas das Santas Casas, Medeiros passou a enviar os equipamentos, simulando notas de doações emitidas por uma empresa fantasma. Em um levantamento da CPJ, apurou-se junto à Vigilância Sanitária do local da sede, em Carapicuíba (SP), que tal instituição nunca existiu fisicamente naquele endereço.
“Em âmbito local, concomitante às notas fiscais de doação, Medeiros teria iniciado um ciclo de ameaças ao provedor e investigado Antonio José Aldrighi dos Santos, o que teria ocorrido inclusive com telefonemas a sua residência. Segundo o provedor local, Ronildo, que se identifica como Pereira, descobriu de alguma forma [talvez com a participação de Gilmar] sobre a morte do filho de Antonio José por infecção hospitalar e durante o velório teria realizado uma ligação ao provedor com a afirmação de ambos deveriam ser enterrados. As ameaças são graves a revelam a insensibilidade dos operadores do sistema criminoso”, enfatiza a corporação.
Essas ameaças retratadas pelo provedor foram confirmadas por um outro funcionário do hospital, que prestou depoimento em 28 de maio de 2016, também na CPJ.
“Em seguida, em nova reunião, desta vez na sede da Santa Casa, Pereira apresentou definitivamente Vedoin como sendo o proprietário da empresa Denivaldo Mateus de Lima Ltda.-ME. Na oportunidade, segundo versão unilateral do provedor, Pereira teria proferido grave ameaça na presença de Vedoin e de outros funcionários e conselheiros da Santa Casa de Presidente Venceslau”, disse a Polícia Civil.
As investigações também concluíram este ano eles voltaram a se encontrar em novas reuniões de cobrança, tanto na cidade de São Paulo, como na cidade de Presidente Prudente, sempre com a presença de Vedoin, Medeiros e com a “imprescindível participação do operador local do sistema criminoso, Gilmar Aparecido Alves Bernardes”.
“É certo, entretanto, que somente após o dia 29 de abril de 2016 a autoridade policial tomou conhecimento dessas reuniões, por meio de informações fornecidas pelo advogado do provedor local”, destacou a Polícia.
Texto: G1 SP