Estácio aceita oferta da Kroton e fusão cria gigante educacional

O Conselho de Administração da Estácio Participações aceitou a proposta da gigante Kroton. O negócio foi fechado depois de a Kroton melhorar sua oferta de troca de ações durante essa madrugada, quando o conselho estava reunido. O negócio ainda depende da aprovação do Cade.

A operação é avaliada em mais de R$ 5 bilhões e une a primeira e a segunda maiores empresas de educação de capital aberto do país e cria uma gigante de 1,6 milhão de alunos. Com o negócio, a Kroton se firma como a maior empresa de ensino superior do mundo.

A nova proposta considerou uma relação de troca de 1,25 ação da Kroton para cada papel da Estácio. Também foi adicionada à oferta a distribuição de R$ 170 milhões em dividendos extraordinários aos acionistas da Estácio, o que representa aproximadamente R$ 0,55 por ação, de acordo com fato relevante distribuído ao mercado na manhã desta sexta-feira.

Levantamento da CM Consultoria mostra que a união entre Estácio e Kroton formará uma empresa de R$ 24,9 bilhões em valor de mercado e 1,6 milhão de alunos. O mercado financeiro reagiu positivamente ao negócio e as ações das duas empresas na Bovespa subiam.

A elevação da proposta da Kroton foi uma surpresa ao mercado, já que a empresa garantira que a oferta anterior (de 1,25 ação para cada papel da Estácio) era sua segunda e última — a primeira considerava 0,97 ação da Kroton para cada uma da empresa carioca.

Segundo fontes que acompanharam de perto a negociação, a demora para a tomada de decisão da Estácio comprova o racha que há na empresa. Enquanto alguns acionistas topavam a venda à Kroton, sobretudo aqueles que mantém participação nas duas empresas (Kroton e Estácio), outros, como a família Zaher, vetavam a venda.

O fato relevante também dá sinais desta divisão ao colocar algumas condições para o fechamento do negócio. “O Conselho de Administração da Estácio, em reunião realizada ontem, manifestou que está de acordo com os termos econômicos da nova proposta da Kroton, desde que os demais termos da operação sejam estabelecidos de forma satisfatória”, afirmou, sem detalhar quais seriam esses termos.

O documento também detalha que foi criado um comitê para a análise dos próximos passos do negócio. “Desse modo, o Conselho de Administração solicitou ao Comitê formado para cuidar deste assunto que negocie com a Kroton os demais termos da operação”, diz o fato relevante.

A disputa pela Estácio desde o último dia 2 de junho foi acirrada. A Estácio atraiu a atenção dos concorrentes por causa do seu crescimento acelerado (em número de alunos) no ensino à distância (EAD), que tem custo baixo e é focado na classe C. Além disso, a forte presença no Rio, mercado considerado difícil para entrar tanto por conta dos altos aluguéis como dos bons salários de professores por conta de um sindicato atuante, foi decisiva para transformar a empresa na bola da vez.

O Brasil tem quase 2.100 instituições de ensino superior privado, que concentram 75% dos alunos dessa faixa. As operações de fusão e aquisição, com a chegada de estrangeiros ao país, começaram a crescer em 1996, quando houve a sanção da lei que permitiu a abertura de capital de universidades com fins lucrativos. A onda mais forte de consolidação teve início em 2007. A primeira grande fusão de empresas abertas foi a de Kroton e Anhanguera, anunciada em 2013.

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Segundo especialistas, a venda é um bom negócio para os acionistas, mas nem tanto para o mercado de educação brasileiro. Os ganhos com sinergias decorrentes do negócio são estimados em cerca de R$ 4 bilhões com a fusão com a Kroton, que é líder do mercado, com 1,1 milhão de alunos.

O aumento da concentração no segmento de Ensino Superior traz dois efeitos indesejáveis, dizem especialistas. O primeiro é uma possível onda de cortes de pessoal, para potencializar a sinergia. Outro é a queda na qualidade de ensino.

— O modelo de negócios da Kroton já é conhecido e passa por redução de custos por meio do corte de pessoal e manutenção de preços ao estudante, para que as margens de lucro cresçam — explica André Ramos, professor da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP).

Texto: O Globo