Justiça não vê ligação com megatraficante e manda soltar empresário de MT

O juiz da 23ª Vara Federal de Curitiba (PR), Nivaldo Brunoni, mandou soltar o empresário Mauro Augusto Laurindo da Silva, supostamente envolvido num esquema de lavagem de dinheiro que também contou com o ex-prefeito de Brasnorte (575 km de Cuiabá), Eudes Tarciso Aguiar (DEM), e também Luiz Carlos da Rocha, o “Cabeça Branca”, considerado o “maior traficante da América do Sul”. Apesar de deixar a prisão, Laurindo terá de cumprir outras medidas cautelares. A decisão é da última terça-feira (16).

O magistrado explica que Laurindo foi apenas um “coadjuvante” no esquema. Ele, que teve mandado de prisão expedido no dia 22 de novembro de 2018, teria “emprestado” contas bancárias de sua empresa (Fama Serviços) para movimentação de valores que supostamente possuem origem no tráfico internacional de drogas. Apenas no mandado judicial que autorizou a deflagração da operação “Sem Saída”, que investiga os fatos criminosos, em torno de R$ 100 milhões foram apreendidos pela Polícia Federal.

“Com efeito, extrai-se da denúncia que Mauro concorreu para os crimes de forma coadjuvante, auxiliando os principais articuladores na ocultação/dissimulação de bens e valores provenientes do tráfico de drogas. Não lhe foi imputada qualquer participação de destaque nos crimes de lavagem de dinheiro”, diz trecho da decisão.

Para o juiz da 23ª Vara Federal de Curitiba não há “indícios concretos” de que o empresário Mauro Laurindo tenha envolvimento com o megatraficante “Cabeça Branca”, e também com Alessandro Aguiar, irmão do ex-prefeito de Brasnorte. Ambos são apontados como os principais articuladores do esquema de lavagem de dinheiro.

“Denota-se, portanto, que não há indícios concretos do envolvimento de Mauro com o tráfico de drogas e com a organização criminosa integrada por Luiz Carlos da Rocha e Alessandro Aguiar. As provas indiciárias sinalizam o envolvimento de Mauro na ocultação e dissimulação de bens e valores pertencentes ao traficante Luiz Carlos da Rocha”, ponderou o magistrado.

Apesar de sair da prisão, Laurindo deve comparecer mensalmente em juízo para justificar suas atividades cotidianas, está proibido de se ausentar do país, deve entregar seu passaporte em até 24 horas, não pode mudar de casa sem permissão (ou permanecer mais do que 8 dias fora dela), além de obedecer as intimações e determinações judiciais.

BERERÉ

Além da Operação Sem Saída, Laurindo também é investigado na “Operação Bereré”. Deflagrada em 2018 pelo Gaeco, a “Bereré” apura um esquema envolvendo uma empresa que prestava serviços ao Detran de Mato Grosso, além de políticos “famosos”, como o ex-governador Silval Barbosa e o ex-deputado estadual Mauro Savi (DEM).

De acordo com investigações do Gaeco, um cheque de R$ 30 mil teria sido depositado na conta da Fama Serviços Administrativos por meio de uma outra sócia da organização, Maria de Fátima Azoia Pinoti. O depositário é um ex-sócio da Santos Treinamento, empresa que agia em conjunto com a EIG Mercados nos serviços prestados ao Detran e que também lavava dinheiro e o distribuía a membros da organização para pagamento de propinas.

SEM SAÍDA

O inquérito da Polícia Federal revela a proximidade entre Mauro Augusto Laurindo e o empresário Alessandro Aguiar – irmão do ex-prefeito de Brasnorte, Eudes Tarciso Aguiar. Ambos também foram presos na operação “Sem Saída”. Segundo as investigações, os irmãos auxiliavam Mauro na obtenção de contratos entre prefeituras municipais e a Fama Serviços Administrativos. A organização era utilizada como instrumento para lavagem de dinheiro.

As investigações apontam que o megatraficante Luiz Carlos da Rocha – conhecido como “Cabeça Branca” -, utilizou as contas bancárias da organização para realizar depósitos. Pelo menos R$ 283.789,67 foram depositados no fim de dezembro de 2016. Segundo o inquérito da Polícia Federal, só entre meados de 2014 e 2017, a organização criminosa teria negociado aproximadamente 27 toneladas de cocaína, totalizando US$ 138.233.839.00.

Além da Fama Serviços Administrativos, o inquérito aponta também movimentações suspeitas da Madeireira Imperatriz Ltda e também da Agropecuária Estrela do Oeste Ltda – localizadas, respectivamente, em Brasnorte e Nova Maringá (369 KM de Cuiabá).  As investigações tiveram inícios nas operações “Spectrum” e “Efeito Dominó”.

A operação “Sem Saída”, deflagrada em 22 de novembro de 2018, contou com a participação de 100 policiais federais que cumpriram 18 ordens judiciais em Curitiba, no Paraná, e em Brasnorte, Tapurah, Juara, Nova Maringá e Cuiabá, em Mato Grosso, dos quais 2 mandados de prisão preventiva, 2 mandados de prisão temporária e 14 mandados de busca e apreensão.

De acordo com informações da Polícia Federal, a Secretaria Nacional Antidrogas do Paraguai (Senad), também realizou diligências sobre a operação, culminando no encerramento de 41 empresas, além da apreensão de 42 mil cabeças de gado, e o sequestro de 31 fazendas no país vizinho.

A denominação “Sem Saída” é uma alusão ao fato de que todos aqueles que participaram da organização criminosa, ou de alguma forma se associaram a “Cabeça Branca”, serão identificados e responsabilizados, não deixando saída para tais suspeitos.    

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Texto: Diego Frederici/FolhaMax