Líder do Comando Vermelho assume assassinato de colega de facção na PCE

O reeducando Luciano Mariano da Silva, o “Marreta”, confessou que matou o colega de cela Paulo Cesar dos Santos, o “Petróleo”, ambos apontados como líderes do Comando Vermelho, no dia 26 de outubro, dentro de uma cela na Penitenciária Central do Estado (PCE). Ele acusa a vítima de traição, já que estaria repassando informações sobre seus atos ilícitos para policiais da Ronda Ostensiva Móvel Tática (Rotam).

A confissão aconteceu nesta segunda-feira (18), em depoimento prestado na Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), que está investigando a morte. Marreta estava na companhia do advogado Rafael Winck do Nascimento, que passa a assumir sua defesa.

Ao ser questionado sobre a participação dos demais detentos no crime, ele respondeu “quem matou ele foi eu”. Sobre a motivação, explicou que há um ano e meio, Petróleo estaria prejudicando seus “negócios” fora da cadeia, como por exemplo, tráfico de armas e drogas.

“Quando o interrogado conversava com comparsa na rua, a vítima tudo ouvia e depois repassava as informações para a Rotam, que intercedia, fazendo a apreensão do ilícito e prisão dos envolvidos”, diz trecho do depoimento de Marreta.

“Regaço que ele tinha feito na minha vida”

Ele narrou que dois dias antes de matar Petróleo, durante um depoimento no Fórum de Cuiabá, teria descoberto que ele estava o entregando, já que o depoimento dos envolvidos no caso batiam com o que havia sido dito dentro da cela. “Eu fiquei sabendo do regaço que ele tinha feito na minha vida”, afirmou.

Após a audiência, no trajeto de volta à PCE, Marreta chegou a perguntar à vítima o motivo de ele estar o entregando. Petróleo teria respondido “depois da visita nós conversa (sic)”. Marreta acrescentou que a conversa não teve outro ouvinte, apenas ele.

Quando voltaram para a cela, não conversaram mais. No sábado, 26 de outubro, após o término da visita, por volta das 21h, todos estavam deitados quando percebeu que Petróleo o vigiava com os olhos, causando um desconforto e que, por isso, não conseguiu dormir.

Ele afirmou que já havia se sentido ameaçado pela vítima e que por isso, por volta das 23h, Marreta pegou o lençol da sua cama, foi até o banheiro e fez uma trança, fechando a cortina do banheiro. Ele levou um vidro de perfume e atacou Petróleo, passando a trança pelo seu pescoço e o imobilizando com o braço.

4 anos de artes marciais

Marreta afirmou que o golpe foi para ele perder a força. “Eu tenho 4 anos de artes marciais”, disse e em seguida, fez Petróleo inalar o perfume. “Foi a única forma de apagar ele”, disse o interrogado.

Por fim, arrastou a vítima até o banheiro e em seguida, o pendurou pelo pescoço com a ajuda do lençol. Conforme apertava o lençol, media os batimentos da vítima pelo pulso. E que após constatar a morte, passou a limpar o local para esconder suas digitais.

Afirmou ainda que as vermelhidões e inchaços que apresentava no corpo são da tentativa de erguer a vítima. O arranhão na panturrilha esquerda ocorreu quando movimentava a vítima dentro do banheiro e acabou se arranhando no vaso de cimento.

Após o crime, fechou a cortina do banheiro e voltou a dormir. “Foi a única forma que eu consegui dormir naquela noite”. Disse ainda que os outros três companheiros de cela não tiveram participação no crime.

Afirmou que Petróleo não tinha nenhum problema com eles, que passaram a ocupar a cela há 20 dias antes do crime e que desconhece eles. “Sim fui eu que matei para não morrer”. Para Marreta, até o dia em que descobriu que vinha sendo delatado, considerava Petróleo como seu parceiro e que tinha a vítima como um irmão.

Morte

O corpo de Petróleo foi encontrado na manhã de domingo (27) pelos companheiro de cela, que logo em seguida chamaram os agentes penitenciários. A princípio, havia suspeita de suícido, que foi descartado. Petróleo e Marreta foram acusados de participar do esquema que permitia a entrada de celulares e outros objetos na PCE.

Na ocasião também foram detidos o diretor da PCE, Revétrio Francisco da Costa, o sub-diretor Reginaldo Alves dos Santos e os militares Cleber de Souza Ferreira, Ricardo de Souza Carvalhaes de Oliveira e Denizel Moreira dos Santos Júnior.

Investigação da Polícia Civil apontou que tanto a direção quanto os militares tinham influência direta na entrada e saída de aparelhos celulares da penitenciária.

Texto: Yuri Ramires/Gazeta Digital (GD)