Mãe de gêmeos pede para se tratar de vício e ter os filhos de volta

Decidida em reaver a guarda dos filhos e trazer paz para a mãe desesperada, Rafaela Pereira Alves, 24, pediu para ser encaminhada para uma comunidade terapêutica, no mesmo dia em que dona Rosalina Ferreira do Prado, 56, teve os netos gêmeos de 2 meses, Rogério e Rafael, retirados de seus braços.

Vizinhos, amigos e pessoas que se comoveram com a história de Rosalina, realizarão mutirão neste sábado (29) para reformar a casa dela. Em se tratando das medidas jurídicas, o advogado Ricardo Monteiro assume o caso e diz que ajudará a avó a recuperar a guarda dos netos.

Rafaela estava morando com o namorado, no Residencial São Carlos, em Cuiabá, e ao ligar para uma amiga, foi informada de que a Justiça havia retirado a guarda de seus filhos gêmeos da mãe. Desesperada, foi até a residencia de Rosalina e disse que ficou em choque quando não viu os bebes no berço. “Me deu um branco, fiquei sem chão, chorei. Mas logo veio um choque de realidade e vi que tudo isso é consequência dos meus erros e vou consertar”.

A jovem perguntou para a madrinha, Josefa dos Anjos Araújo, o que deveria fazer para reaver os filhos e acabar com o sofrimento da mãe. “Ela me disse que o primeiro passo seria me tratar e me livrar do vício do álcool e das drogas. Imediatamente aceitei”.

Josefa conta que levou a afilhada para a policlínica do Planalto, onde ela foi consultada pelo médico plantonista, que receitou os medicamentos, que ela já usava para conter a abstinência. Rafaela dormiu na unidade e nesta quinta-feira (27) passou na casa da mãe para se despedir, pois dali iria direto para a Comunidade Lar Cristão, localizada no bairro CPA 3, na capital. “Tivemos que improvisar umas roupas, pois ela veio só com a que estava no corpo”, diz a madrinha.

No caminho para a comunidade terapêutica, os padrinhos de Rafaela passaram novamente na policlínica para pegar os remédios receitados, porém, não encontraram nenhum dos 5 medicamentos, usados para controlar a ansiedade e o distúrbio psicológico. Como Rafaela, além de dependente química é esquizofrênica, a comunidade não a aceitaria sem os medicamentos. Então, os padrinhos tiveram que comprar na rede privada. Ela precisa tomar amitriptilina, prometazina, neozine, depakene e clonazepam.

Já na comunidade terapêutica, Rafaela, que antes estava tímida, conversou com a reportagem. Receosa perguntou: “Tudo isso é para ajudar a trazer meus meninos de volta, né?”.
Ela ainda afirmou que está disposta a se tratar, pelo seu próprio bem e de sua família. “Só tenho minha mãe e meus filhos, se perde-los, eu morro”.

A coordenadora da comunidade Lar Cristão, Conceição Batista Santana, explicou que a unidade não é compulsória e que Rafaela tem que realmente querer receber a ajuda. “A porta está aberta e se ela falar que vai embora, não somos nós que iremos impedir”, frisou.

Conceição conta que as mulheres que procuram a unidade tem que cumprir uma jornada diária. Todas fazem exercícios físicos, laborais, cursos profissionalizantes e terapias psicológicas e religiosa. “Primeiramente ela passará pelo acolhimento individual, momento em que vamos conhecer a história dela, os problemas enfrentados. E só após essa etapa ela será encaminhada para o convívio com as demais mulheres”.

Ao final da conversa, Rafaela reforçou o desejo de mudança e afirmou que ela cuidará dos 4 filhos e ajudará a mãe a ter uma vida mais tranquila. “Voltaremos a ser uma família e peço que todos que estão dando força para minha mãe, que não a abandonem, pois ela ainda vai precisar muito, já que ficou sozinha depois que meu pai morreu”.

Mutirão

Pessoas solidárias a Rosalina irão realizar neste sábado um mutirão para reformar parte da casa dela, no bairro Bela Vista. Ela já ganhou o forro e troca das telhas de toda a casa, bem como a conclusão do banheiro e manutenção do quarto das crianças. “Estou muito feliz e esperançosa em rever meus netos. Tenho certeza que com fé em Deus e ajuda de todos os envolvidos, logo eles estarão aqui em casa novamente”.

Os vizinhos de dona Rosa, como é carinhosamente chamada na região, já alugaram um cata-tudo e realizaram a limpeza de todo o entorno da casa, além de jogarem os móveis velhos fora. “Vamos deixar tudo novinho e em condições melhores, para que a pobreza não seja justificativa para manter os meninos longe da avó”, diz a vizinha Geiza Taiane de Oliveira Silva.

Briga na Justiça

O advogado Ricardo Monteiro confirmou que assumiu o caso de Rosalina. Segundo ele, será necessário analisar as justificativas que o promotor de Justiça de Defesa da Infância e Juventude de Cuiabá, José Antônio Borges, utilizou para pedir a guia de acolhimento, para poder embasar a defesa de restituição da guarda dos gêmeos. “Eu já conversei com a dona Rosalina e nesta sexta-feira ficarei totalmente voltado para o caso dela. Há muitas coisas a serem esclarecidas, a começar pelo fato de tomarem apenas os bebes e deixarem as duas crianças mais velhas”.

Texto: GD