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Mauro Savi é acusado de usar cheques de suposto esquema na compra de gado
O deputado estadual Mauro Savi (PR) e seu cunhado, Valdir Daroit, teriam usado cheques oriundos do suposto desvio de R$ 9,4 milhões da Assembleia Legislativa de Mato Grosso, em 2014, para pagar compras de gado.
A informação está contida nos depoimentos de cinco produtores rurais que atuam na região sul e sudeste do País, que foram ouvidos nas investigações da Operação Ventríloquo, que apura o esquema.
Em razão do foro privilegiado, Savi é investigado no Tribunal de Justiça de Mato Grosso pela alegada participação nas tratativas. Conforme a denúncia, o suposto desvio foi realizado através do pagamento de uma dívida do Legislativo estadual com o antigo Seguro Saúde Bamerindus. Do valor total pago, segundo o Gaeco, 45% voltou para os membros do suposto esquema.
Os depoimentos dos produtores foram prestados no Ministério Público dos Estados de Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Rio de Janeiro. Eles foram intimados a depor em razão de os cheques recebidos terem sido rastreados pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado).
Em todos os casos, de acordo com os depoimentos, após venderem cabeças de gado a Savi e Valdir, os produtores receberam cheques emitidos pelo ex-advogado do HSBC, Joaquim Mielli, delator da primeira fase da operação e responsável por “lavar” o dinheiro do desvio por meio de depósitos e emissões de cheques indicados pelo grupo.
Depoimentos
Um dos depoimentos foi prestado pelo empresário José Humberto de Sá, em São José do Rio Preto (SP), no dia 16 de junho deste ano.
José Humberto afirmou que nunca chegou a conversar com Savi, mas que o conhecia “de vista”, por frequentar leilões de gado, em que viu o deputado por algumas vezes.
De acordo com o empresário, no final de maio de 2013, em um leilão realizado na Fazenda Rima Agropecuária, na cidade de Entre Rios (MG), ele vendeu uma novilha a Valdir, que estava ao lado de Savi.
“Acreditando o declarante que ambos eram sócios na compra desse animal, tanto assim que da nota promissória referente à compra da rês, consta como adquirente ‘Valdir Daroit e Outro Condomínio’”, diz trecho do depoimento.
Segundo Jose Humberto, a novilha foi vendida em 24 parcelas de R$ 11,4 mil, em um total de R$ 273,6 mil.
“Ocorre que várias das parcelas foram pagas com atraso e duas dessas parcelas foram pagas mediante a compensação de um cheque de R$ 22,8 mil, de emissão de Joaquim Fábio Mielli Camargo. Sendo tal cheque depositado pelo próprio comprador, não tendo o declarante tido contato com essa cártula”, declarou o empresário.
Nelore Puro
No dia 1º de setembro deste ano, o produtor rural Reinaldo José Caravellas também prestou depoimento no Rio de Janeiro (RJ) e afirmou que nunca teve contato com o deputado Mauro Savi, mas que o conhece como “um criador de gado Nelore”.
O produtor também esclareceu que recebeu um cheque de R$ 31 mil, investigado na Operação Ventríloquo, como pagamento de duas parcelas da venda de 50% de uma vaca de sua propriedade.
“Tal aquisição foi feita por Valdir Daroit em condomínio com outras pessoas, de acordo com a nota de leilão, cujo cópia que ora apresenta para ser juntada aos autos; que o valor da venda foi de R$ 372 mil, parcelados em 22 vezes. Sendo que as duas primeiras parcelas eram no valor de R$ 31 mil e as demais no valor de R$ 15,5 mil cada”, afirmou o produtor.
Reinaldo Caravellas ainda disse que não conhece Joaquim Mielli, nem mesmo Valdir.
“Pois a venda foi feita no leilão Perólas do Nelore, sendo leiloeira o Programa Leilões, que é transmitido pelo canal Rural de TV. Que nem o comprador e nem o vendedor tem contato pessoal”, disse ao MPE.
Vinculo comercial
No município de Paranaguá (PR), o produtor Roberto Bavaresco prestou depoimento no dia 28 de junho deste ano e confirmou ter vinculo comercial com Mauro Savi, ao comprar do parlamentar “um embrião e um animal em leilão”.
O produtor também esclareceu que o cheque de R$ 20 mil depositado por Joaquim Mielli, no dia 18 de março de 2014, foi referente a uma quitação de algumas parcelas da venda de uma bezerra Nelore, após um leilão.
“Indagado se formalizou algum documento dessa operação, respondeu que sim, através de uma nota de leilão e contrato de compra e venda rural com reserva de domínio Bovino de Elite – Nelore PO”, diz trecho do depoimento.
Ainda ao MPE, Roberto Bavaresco declarou que o contrato de venda da bezerra foi firmado com Valdir e Savi.
Além de José Humberto, Reinaldo Caravellas e Roberto Bavaresco, também prestaram depoimento outros produtores que fizeram negociações com o cunhado de Mauro Savi, Valdir Daroit, e receberam cheques investigados na operação: Adir do Carmo Leonel, que recebeu R$ 150 mil, pela venda de gado; e o advogado e produtor agropecuário José Murilo Procópio de Carvalho, que recebeu um cheque de R$ 29 mil, como pagamento da venda de uma vaca Nelore, por R$ 582 mil.
A operação
Segundo a investigação do Gaeco, a Assembleia Legislativa contratou um seguro junto ao antigo Bamerindus Companhia de Seguros na década de 90 (hoje HSBC, que o incorporou), porém, não quitou os valores devidos, o que levou à Seguradora ingressar com a ação de execução no ano de 1997.
Passados quinze anos, em meados de 2012, com a ação judicial ainda em andamento (como está até o momento), o advogado Júlio César Domingues Rodrigues, atendendo aos ditames dos demais integrantes do suposto bando criminoso, procurou Joaquim Fabio Mielli Camargo se dizendo intermediário da ALMT e se colocando à disposição para negociar referidos valores; aduzindo, em seguida, já no ano de 2013, que o Procurador-Geral daquele órgão daria parecer favorável, ocasião em que fora protocolado requerimento administrativo de pagamento do débito junto à ALMT e que deu origem ao Processo Administrativo nº 45/2013.
Segundo os promotores do Gaeco, entre os meses de fevereiro à abril de 2014, os denunciados subtraíram cerca de R$ 9,5 milhões em proveito próprio e alheio valendo-se da condição de funcionários públicos de alguns de seus membros.
“Os fatos são aterradores e vieram a lume por intermédio de declarações prestadas pelo arrependido Joaquim Fábio Mielli Camargo a este Grupo, o qual, devidamente acompanhado e assistido por seu advogado, de forma lúcida, clara e espontânea, desvelou fatos criminosos aos quais se viu enredado pelo ex-presidente daquela Casa de Leis, o então Procurador-Geral e Secretário-Geral daquela mesma instituição, bem como outros agentes, alguns ainda desconhecidos, outros portadores de foro por prerrogativa de função, os quais urdiram sofisticada forma de “surrupiar” dinheiro que não lhes pertencia, mas sim ao povo mato-grossense”, diz trecho da denúncia.
De acordo com a delação de Joaquim Mielli, em reunião realizada na Assembleia, já em janeiro de 2014, o então deputado José Geraldo Riva, mesmo afastado judicialmente da Presidência do Parlamento Estadual, na companhia do à época secretário-geral Luiz Pommot, “demonstrando ter total domínio do fato, atestou que a ALMT pagaria a Joaquin Mielli a totalidade da dívida com acréscimos (mais de R$ 9milhões), conforme cálculo apresentado por este último, porém, metade do valor teria que ser encaminhada para contas bancárias por ele indicadas”.
Na denúncia, os promotores explicam que “depois de tudo acertado, o valor foi efetivamente depositado em três oportunidades distintas (nos meses de fevereiro, março e abril de 2014) na conta de Joaquim Fabio Mielli Camargo que, incontinenti, “devolveu” 50 % do valor (aproximadamente 4,5 milhões) para atender os interesses criminosos de José Geraldo Riva e seus comparsas, “pulverizando” os valores em diversas contas de pessoas físicas e jurídicas, ‘lavando’, assim, os capitais ilícitos”.
Outro lado
A redação tentou entrar em contato com o deputado Mauro Savi, por inúmeras vezes, mas as ligações caíram na caixa de mensagens. A assessoria do deputado informou que iria tentar uma posição do parlamentar mas, até a edição desta matéria, não houve resposta.
Texto: MidiaNews