“Meu filho sonhava em salvar vidas e teve esse sonho roubado”

A dona de casa Jane Claro, mãe do ex-aluno do Corpo de Bombeiros Rodrigo Claro, que morreu em 2016, após um treinamento da corporação na Lagoa Trevisan, em Cuiabá, voltou a culpar a tenente Izadora Ledur pela morte do filho. 

Ela prestou depoimento na tarde desta sexta-feira (14) no Fórum de Cuiabá, em uma audiência na 14ª Vara Especializada da Justiça Militar, conduzida pelo juiz Murilo Mesquita. A audiência faz parte do processo em que a tenente é ré pelo caso.

“Em momento algum eu questionei a preparação física que um militar precisa. Sei que o curso é pesado. Mas é preciso aceitar que as pessoas têm limitações. As pessoas têm pai e mãe”, afirmou Jane, que se emocionou bastante e até chorou em alguns momentos da audiência. “Meu filho sonhava em salvar vidas. E teve sonho roubado.”

Rodrigo morreu no dia 15 de novembro de 2016, após passar mal em uma aula prática, que tinha como instrutora a tenente Ledur. Ela é acusada de dar “caldos” no ex-aluno, o que o teria levado a morte dias depois.

Segundo o depoimento de Jane, antes do episódio na Lagoa Trevisan, Rodrigo já havia relatado ao menos um caso de truculência por parte da militar, durante um dos treinamentos.

Ela, inclusive, recordou de uma conversa que teve com o filho. “Determinado dia vim visitar o Rodrigo e o pai, que moravam junto [ela vivia em Tangará da Serra]. Vi que ele tinha uma mancha na costela. E perguntei o que era aquilo. Ele me disse que a tenente Ledur o empurrou durante um treinamento na piscina da UFMT e ele bateu com a costela na borda”, relatou.

“Em certo dia, ele me manda uma mensagem dizendo que iria pra um treinamento e que estava com medo, porque a tenente Ledur já havia ‘prometido’ ele”, completou.

Jane Claro também relatou os momentos após a internação do filho, quando um oficial lhe telefonou perguntando se Rodrigo tinha alergia a algum medicamento, dando a entender que algo havia acontecido.

“Logo em seguida o cabo Joilson me ligou usando o telefone do Rodrigo. Ele me disse para eu não me preocupar. Eu pedia para falar com meu filho, e ele disse que não poderia porque ele estava atendimento”, relatou.

Um dos momentos mais marcantes do depoimento aconteceu quando Jane falou da última vez em que viu Rodrigo bem. “Meu filho subiu em uma moto e saiu de casa para realizar um sonho. Eu mal sabia que aquele era o último abraço que daria no meu filho dentro de casa”, disse, chorando.

Jane contou ainda como foi ver o filho na UTI, quando seu estado já era considerado grave. “Estava na frente da UTI. Quando de repente a porta da UTI se abre e eu vejo meu filho em uma maca, totalmente imóvel. Um menino que era cheio de vida, ali, daquele jeito. Por cinco dias eu vi meu filho ali. Eu conversava com ele, mas ele estava inconsciente. Ele  não me respondia”, contou, emocionada. “Eu fiquei em choque. Como uma pessoa que estava ali pra salvar vidas era capaz de tamanha atrocidade?”. 

Texto: Cintia Borges/Mídia News