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MT registra 242 ocorrências de violência sexual contra crianças e adolescentes
Mato Grosso já registra 242 ocorrências de violência sexual contra crianças e adolescentes este ano. Os dados da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp), de janeiro a julho, indicam que foram 114 crimes consumados e 128 tentados. Significa pelo menos uma vítima de crimes sexuais por dia em todo o Estado.
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A defensora pública, Rosana Leite afirma que o número é alto, mas não chega nem perto da realidade, já que a subnotificação e a invisibilidade das agressões ainda são o maior obstáculo. Ela cita destaca que o Instituto de Pesquisa Econômicas Aplicadas (Ipea) estima que só 10% dos casos chegam ao conhecimento da Justiça. Dentre desta análise, Mato Grosso teve mais de mil crianças vítimas de abuso sexual consumado no primeiro semestre do ano.
Rosana Leite, que atua na área de Direitos Humanos e da Mulher, explica que nos últimos anos houve o aumento crescente das ocorrências devido à ampliação e divulgação da rede de proteção. Argumenta que apesar da carência estrutural de muitos órgãos, existe uma evolução do atendimento e cada vez mais há cobrança para o cumprimento das leis.
Na análise da defensora, não há condições de desconectar a violência contra a criança da violência contra mulher. “O agressor só para quando é descoberto e punido. E até isto acontecer, ele tem uma trajetória, que começa com ataques físicos, psicológicos e até mesmo sexuais contra a mãe e, em seguida, estendendo-se para a criança que, geralmente, também é do sexo feminino”.
Do total de abusos registrados no Estado até julho, 97 são contra meninas e 17 contra meninos. E o fato do agressor ser alguém da família ou uma pessoa próxima ainda prevalece entre os acusados. Por este motivo, a defensora defende que o treinamento e trabalho dos profissionais da área de educação devem ser intensificados. Ela acredita que é preciso identificar as mudanças de comportamento e tentar, por meio de uma equipe multidisciplinar, identificar os casos antes mesmo de informarem os pais. “Precisamos entender que a vítima sofre forte ameaça para se manter em silêncio. Sendo assim, quando o fato chega ao ambiente familiar, o agressor pode ver a intervenção da equipe escolar como um risco e, assim, tornar as intimidações ainda mais violentas”.
Leite alerta que o adulto que sabe do abuso de uma criança e não denuncia, pode ser responsabilizado por conivência.
A maior parte das denúncias de abuso sexual envolve pessoas com renda baixa ou em situação de vulnerabilidade. Claudio Álvares, da Delegacia da Mulher, Infância e Idoso de Várzea Grande, explica que isto não significa que famílias abastadas estejam imunes a este tipo de crime e sim, que fatores como o status social pesam mais que a punição do agressor. “Como 95% das ocorrências envolvem pessoas do núcleo familiar, a conversa se encerra em 4 paredes”.
Ele explica que existem algumas formas de prevenir e deve-se levar em consideração que os abusadores têm em incomum o fato de terem a confiança dos pais. Álvares alerta que os responsáveis não devem confiar em absolutamente ninguém. “A regra é sempre confiar desconfiando”.
Outro ponto importante é não deixar que a criança aceite balas, pirulitos e outros tipos de presentes sem motivo aparente e, principalmente, de estranhos. O delegado conta que é comum ouvir da vítima que a primeira abordagem do criminoso foi com algum tipo de guloseima ou agrados.
Manter o diálogo aberto também é essencial e para isto é preciso quebrar o tabu que envolve o tema. “A criança não pode ter medo de contar nada. Às vezes, ela se sente mais confortável falando com o professor na escola do que com a mãe”.
Aos pais cabe ainda observar qualquer mudança de comportamento extrema como uma timidez inesperada em uma criança extrovertida ou a agressividade em alguém calmo.
No último semestre, Álvares conta que houve vários casos chocantes sendo que 2 estarrecedores, na opinião do profissional. Um deles é de um pai que tinha relações sexuais com a filha de 6 anos e gravava o abuso. “O primeiro posicionamento é sempre negar, mas como tínhamos os vídeos, ele não teve chance. O acusado ainda disse no depoimento que a menina se insinuava para ele”.
Também cita o tio que abusou da sobrinha de 6 anos. Ele dilacerou a vagina da menina e ao narrar o crime na delegacia, disse que pensou que tinha rasgado ela e que a vítima estava morta. “O acusado falou que ficou surpreso quando a menina apareceu viva”.
Texto: Caroline Rodrigues, repórter de A Gazeta/Gazeta Digital (GD)