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Plantio da soja começa no dia 16 e safra deverá ser maior em MT
A partir de sexta-feira (16), o plantio de mais uma safra de soja estará liberado em Mato Grosso. A tradição de iniciar a semeadura da oleaginosa em setembro é marcada por uma situação incomum este ano: nem todos os produtores garantiram os insumos para a temporada 2016/2017.
Ainda assim, a expectativa é que a produção total do grão neste novo ciclo supere com folga a da última safra, que encerrou com perda de 2 milhões de toneladas e produção total de 26,030 milhões (t), conforme o 12º e último Levantamento de Safra, divulgado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) esta semana.
A soja que ainda será plantada terminará com a colheita de 29,385 milhões (t), projeta o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea). Confirmando-se a estimativa, o rendimento total das lavouras de soja será 6,87% superior ao do ciclo 2015/2016, quando foram colhidas 27,497 milhões (t) da oleaginosa, segundo números do instituto. Ante a safra imediatamente anterior (2014/2015), a “quebra” na produção mato-grossense de soja, apontada pelo Imea, é de 1,122 milhão (t).
Se no último ciclo a estiagem prejudicou o desempenho das lavouras de soja, para a próxima safra, que inicia em menos de uma semana, os climatologistas indicam chuvas acima da média desde a semeadura. A mudança advém dos efeitos do fenômeno La Niña, que sucede o El Niño. “Se for plantada toda a área (prevista para a soja), a estimativa pode subir de 27,5 milhões (t) para 29 milhões (t), porque o La Niña deve favorecer o Centro-Oeste, com chuvas acima da média em janeiro e fevereiro”, comenta o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja), Endrigo Dalcin.
Contudo, chegar à véspera do início do plantio no Estado sem que os sojicultores estejam com todos os insumos comprados é uma situação inédita, prossegue ele. “Em algumas regiões, há produtores que ainda não sabem como irão financiar a safra e não compraram todos os defensivos”.
CUSTEIO – Nos preparativos para o ciclo 2015/2016, cerca de 40% do custeio foi assegurado com recursos próprios dos produtores, afirma o presidente da Aprosoja. Mas, para uma parte deles, o reembolso não veio com o término da colheita da soja e do milho, devido à quebra de safra provocada pela estiagem. Situação essa que comprometeu o planejamento da temporada 2016/2017. “Além disso, o crédito está mais difícil, mais burocrático para acessar, porque os agentes financeiros estão exigindo mais garantias”.
Nesse contexto, as tradings e revendas de insumos devem elevar a participação no custeio da nova safra, avalia. Quanto aos investimentos nas lavouras, “dificilmente os produtores farão algum”, expressa Dalcin. “O custo ficou muito alto, principalmente nas regiões com maiores perdas, onde se colheu entre 5% a 10% do que se estimava”.
Levantamento dos custos de produção da soja (transgênica) em Mato Grosso, conduzido pelo Imea, indica alta de 8,58% ou R$ 254 por hectare, desde a última safra. O custo total alcança nesta temporada a média de R$ 3,212 mil/ha, ante R$ 2,958 mil/ha na safra 2015/2016. Desde o ciclo 2013/2014, a produção da soja encareceu 39,71%. “Para essa próxima safra o custo está bem mais alto, porque se a cotação (da soja) pela Bolsa de Chicago sobe, os insumos também sobem. Aí quando o preço abaixa, os insumos não recuam. Nosso custo é calculado todo em dólar, exceto folha de pagamento, óleo diesel e mercado”, complementa o presidente do Sindicato Rural de Sapezal, José Guarino Fernandes.
Ele concorda que as revendas de insumos e as tradings farão o maior volume de negócios com os produtores que buscam custear a safra. “O crédito oficial aumentou, mas os bancos calculam o risco e na planilha dá abaixo desse valor, então o produtor não atinge o limite de crédito”.
Na divulgação do Plano Agrícola e Pecuário (PAP) em julho, o governo anunciou a elevação do limite de crédito para custeio de R$ 1,2 milhão para R$ 3 milhões por CPF. O valor atual pode ser acessado da seguinte forma: R$ 1,8 milhão (60%) no 2º semestre deste ano e o restante – R$ 1,2 milhão ou 40% – no 1º semestre de 2017.
Fernandes menciona o impacto na renda do produtor mato-grossense e a quebra de safra na temporada passada. Afirma que 70% da safra de milho foi vendida a R$ 18 a saca e o valor atual está acima de R$ 30. “Como muitos não conseguiram cumprir o contrato por causa das perdas, isso impacta na renda”. Na avaliação do presidente do Sindicato Rural de Sinop, Antônio Galvan, muitos produtores ficarão receosos com o plantio. “Com uma pequena safra de soja conseguiriam sanar suas contas, mas sem a safra de milho, que compõe a receita do produtor, sobreveio a dificuldade”.
Galvan reforça que há produtores sem conseguir crédito para plantar, com dívidas acumuladas de outras safras e se deparando com o agravamento da situação por causa da quebra de produtividade das lavouras. “Pode acontecer de ficar área descoberta, sem plantio, devido às condições financeiras dos produtores, que plantarão com baixa tecnologia, pouco adubo e fertilizantes”.
Outra possibilidade, considerada mais grave por ele, é o produtor adiar o plantio da soja até novembro, fora da janela ideal. O plantio tardio traz complicações maiores, pondera Galvan. Há o risco de o produtor acumular mais contas para pagar. “Normalmente quem tem dificuldade para plantar, planta mais tarde. E o melhor momento para iniciar o plantio é em setembro. Quando entra em novembro, diminui a produtividade”.
OTIMISMO – O produtor está confiando no benefício do clima e no preço, afirma o presidente da Aprosoja. Já vendeu 26% da safra 2016/2017 com preço fixado entre R$ 70 e R$ 75 a saca. “O mercado vem com uma grande safra americana, o câmbio tem oscilado para baixo, então vamos ter bons momentos para negociar. Assim que as safras brasileira e argentina estiverem em campo vamos ter momentos de pico de preço”, prevê.
Na região de Sapezal, onde os sojicultores alternam a produção com o plantio do algodão, a semeadura da soja precoce inicia nas primeiras horas do dia 16 de setembro, antecipa o presidente do Sindicato Rural, José Guarino Fernandes, de Sapezal. “Nossa safra de milho caiu muito, apesar de a nossa região ter sido a mais privilegiada com chuvas. Ainda assim, diminuiu bastante a produtividade em relação ao ano passado, com perda média de 20 sacas por hectare e rendimento de 83 sacas/ha. Com a soja, ficou mais ou menos igual, em torno de 51 sacas por hectare”.
Texto: A Gazeta