Por apoio, Silval diz que herdou dívida de R$ 70 milhões de Blairo

Em um dos casos citados em sua delação premiada, o ex-governador Silval Barbosa (PMDB) afirmou que aceitou assumir dívidas no valor de R$ 70 milhões do hoje ministro da Agricultura, Blairo Maggi (PP), em troca de apoio político para sua candidatura ao Palácio Paiaguás, em 2010.

Conforme Silval, as dívidas foram pagas por meio de esquemas fraudulentos em sua gestão.

Segundo consta na delação, já homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), as dívidas de Maggi haviam sido contraídas com o Bic Banco, no valor de R$ 30 milhões, e com o empresário do ramo de factoring, Valdir Piran, em um montante de R$ 40 milhões.

“Assim, no ano de 2010, ao deixar o Governo para se candidatar ao Senado Federal, Blairo Maggi cuidou de garantir que dívidas contraídas em um esquema com o Bic Banco continuassem a ser solvidas. Para isso, ajustou com Silval Barbosa que o apoiaria na eleição para governador de Mato Grosso, desde que Silval assumisse a dívida de R$ 30 milhões perante a referida instituição financeira”, disse o ex-governador, em trecho da deleção.

No documento, Silval explica que a dívida de Maggi com o BicBanco surgiu ainda no ano de 2006.

À época, segundo ele, várias construtoras tinham créditos junto ao Governo do Estado, decorrentes de obras de infraestrutura, no valor aproximado de R$ 130 milhões.

O Governo, no entanto, não tinha disponibilidade orçamentária para quitar tais débitos.

Foi então que Blairo e o ex-secretário de Estado, Eder Moraes, se reuniram com o então presidente do Bic Banco, José Bezerra de Menezes, e acordaram que a instituição iria conceder empréstimos em favor das construtoras que tinham valores a receber do Estado.

Segundo Silval, após o acordo, o Bic Banco passou a conceder tais empréstimos sempre que houvesse a solicitação por parte do secretário Eder Moraes.

Com o pedido de Maggi para que Silval assumisse o débito de R$ 30 milhões, Silval disse que se reuniu com o presidente do Bic Banco e acertou a dívida das diversas empresas, concentrando um empréstimo, no mesmo montante, sem qualquer lastro, ou seja, sem garantia efetiva.

O empréstimo “foi tomado pela empresa Trimec, de Wanderley Fachetti Torres, que quitou a dívida das demais empresas e facilitou o controle da dívida deixada pelo grupo político de Blairo Maggi”, conforme a delação.

Ao final, para viabilizar o pagamento de empréstimo tomado pela Trimec junto ao Bic Banco, Silval contou ter realizado uma nova transação.

Desta vez, ajustou com empresários do ramo de pequenas centrais hidrelétricas, José Geraldo Nonino, Carlos Avalone e Marcelo Avalone, o reconhecimento de um crédito tributário em favor do segmento, de forma a receber um percentual do valor do tributo restituído.

Desta forma, o Governo repassou aproximadamente R$ 73 milhões em favor das PCHs e, na sequência, os proprietários das mesmas, por meio da empresa Dunax (constituída para distanciar a propina repassada), quitaram a dívida de R$ 30 milhões com o Bic Banco.

Mais R$ 40 milhões

Consta ainda na delação a informação de que Silval assumiu também uma dívida de R$ 40 milhões de Maggi com o empresário Valdir Piran.

“Parte da amortização da dívida se deu com o pagamento de precatórios, sem observância da ordem cronológica, em favor da empresa Andrade Gutierrez, no valor aproximado de R$ 250 milhões. Desse valor, R$ 200 milhões foram pagos durante o governo de Blairo Maggi e R$ 50 milhões durante o governo de Silval Barbosa”, citou o ex-governador, na delação.

A mesma informação foi confirmada pelo ex-secretário de Estado, Pedro Nadaf, em seu acordo de colaboração premiada com a Justiça.

Segundo Nadaf, para quitar os R$ 40 milhões de dívidas, entre os anos de 2010 a 2014, foram recebidas vantagens indevidas de empresas prestadoras de serviço ao Estado.

“Como exemplo de pagamento de propina, Pedro Nadaf cita as empresas Trimec, Construtora Guaxe Encomind, Avançar Tecnologia, Geosolo, O.K. Construções e Serviços, além de desapropriações com valor superior ao de mercado, de forma a possibilitar o ‘retorno’ ao operador financeiro Valdir Piran”.

Texto: Mídia News