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Prédio de 26 andares desaba após incêndio
Um incêndio de grandes proporções no centro de São Paulo causou o desabamento de um prédio de 26 andares na madrugada desta terça-feira (1). O prédio é uma antiga sede da Polícia Federal no largo do Paissandu.Há um morto no desabamento e os bombeiros buscam desaparecidos entre os escombros com o auxílio de cães farejadores.
Durante a madrugada, o incêndio atingiu outros prédios no entorno da antiga sede da Polícia Federal. Entre eles, a Igreja Martin Luther teve sua estrutura danificada. O templo é a primeira paróquia evangélica luterana da capital, inaugurada em 1908. Por volta das 9h da manhã, um incêndio voltou a consumir o topo de outro prédio no largo.
Moradores do prédio que desabou afirmam que o incêndio começou por volta da 1h30 após uma explosão no quinto andar. Eles desconfiam que se trate de um botijão de gás. Após a explosão, houve fogo e fumaça pelo prédio.
A costureira Iraci Alves diz que estava no prédio quando o fogo começou. “Foi uma explosão muito forte. Saí só com a minha roupa”, diz. Ela afirmou que parte interna do prédio era de madeira e, por isso, o fogo se alastrou muito rápido.
Iraci dava uma entrevista para uma emissora de TV quando gerou indignação nos demais moradores ao falar que a ocupação pedia apenas uma taxa opcional. “É mentira. Estão falando invasão, mas todo mundo pagava aluguel. Eu pagava R$ 200”, disse o estudante Leandro Bueno, 16. Segundo ele, as condições de segurança do local eram péssimas.
A peruana Gredy Yune, 50, disse que os organizadores da ocupação chegaram a pagar juros. Ela mostrou à reportagem um carnê que marcava as mensalidades.
A responsável pela ocupação, dizem os moradores, é uma mulher conhecida como Nil. Segundo eles, a mulher desapareceu após o incêndio.
A Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros dizem que somente a perícia poderá confirmar as causas do incêndio. Há ao menos um morto, três feridos, e bombeiros buscam por desaparecidos, moradores dizem que havia pessoas no topo do prédio no começo do incêndio.
Foram enviados 160 agentes e 57 carros do Corpo de Bombeiros para a ocorrência, além de unidades da Polícia Militar, SAMU, CET e Defesa Civil.
De acordo com a área de comunicação da Prefeitura de São Paulo, a Defesa Civil está no local para verificar possíveis danos nos prédios vizinhos e a CET está organizando bloqueios na região. A SMADS (Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social) está providenciando abrigamento para as famílias.
Moradores da região relatam que o prédio que desabou era uma instalação desativada da Polícia Federal e que estava ocupada irregularmente. O outro, ainda em chamas, era um edifício comercial.
“Estava assistindo televisão em um hotel próximo quando ouvi uma gritaria. Pensei no começo que era uma briga, mas logo depois ouvi as pessoas gritando para descer e aí vi o incêndio”, relata Antônio Carlos Saraiva, que é recepcionista no hotel São Jorge, vizinho ao local da tragédia. O hotel foi interditado preventivamente pela Defesa Civil.
O prefeito Bruno Covas, que esteve logo cedo no local, disse à imprensa que já estava em tratativas com a União para tomar conta do lugar. “A prefeitura agiu no limite de sua função. Cadastramos as famílias e já estávamos buscando receber esse prédio.”
O prefeito disse que agora a prioridade é prestar auxílio aos atingidos. Segundo ele, 191 pessoas foram atendidas nos abrigos da capital.
Cerca de 150 famílias que moravam no prédio que caiu foram cadastradas pela secretaria de habitação. Destas, 25% eram de estrangeiros.
Bruno Covas não soube dizer quantos prédios estão invadidos na capital. “Sabemos que oito prédios do entorno estão na mesma situação deste que pegou fogo”, afirmou o prefeito.
Também presente no local, o governador de São Paulo, Márcio França (PSB) disse que as famílias desabrigadas serão cadastradas e levadas para abrigos, e também podem se candidatar a receber aluguel social para procurarem um novo lugar para viver. Ele também chamou o caso de “tragédia anunciada”.
“Não tem a menor condição de morar lá dentro. As pessoas habitam ali, desesperadas. Volto a repetir que essa era uma tragédia anunciada”, continuou.
De acordo com o governador, são pelo menos 150 imóveis ocupados irregularmente no centro de São Paulo, a maioria deles de particulares.
França também citou dificuldade em desocupar prédios por conta de liminares.
“Essa subabitação não tem solução, essas pessoas precisam ser tiradas daí. É preciso boa vontade e compreensão do Ministério Público e da magistratura para não dar liminares. Porque quando dão liminares, as pessoas vão ficando lá e quando acontece uma tragédia dessas todo mundo fica triste. Vamos torcer para que tenha alguém ainda vivo ali embaixo”.
Famílias evacuadas
Moradores da ocupação tiveram que deixar para atrás documentos, eletrodomésticos e animais de estimação quando o incêndio começou.
A dona de casa Deise Silva, 31, mãe de sete filhos, conta que a família estava dormindo quando o fogo teve início. Moravam no prédio havia um mês.
“Escutei gritos, achei que tinha gente brigando”, diz ela, que mora com cinco filhos, a mais nova de um ano. “Quando falaram que tinha fogo, acordei as crianças e saí correndo.”
“O prédio desceu, parecia um tsunami”, lembra a dona de casa Maria Aparecida de Souza, 58, que morava no quarto andar havia quatro anos. “Não deu para tirar nada.”
O aposentado Miguel Angelo se machucou na mão com estilhaços de vidro da janela. “Acordei e a energia tinha acabado. Foi uma gritaria, uma correria”, lembra.
Cerca de 80 pessoas viviam no lugar, segundo moradores. Cada família tinha um quarto e os banheiros ficavam no corredor.
As famílias pagariam uma taxa de R$ 160 por mês à coordenadora da ocupação para ter direito a um quarto no prédio, segundo uma moradora que não quis ser identificada.
O ferreiro Carlos Augusto Soares, 46, espera que a prefeitura ofereça abrigo para as famílias. Morador do lugar há quatro anos, conta que não conseguiu sequer salvar a sua gata de estimação durante a fuga.
Texto: Folha On Line