Privatização em Portugal: Novas Oportunidades para Investidores
Rádio de Nilson Leitão recebeu depósito de R$ 20 mil, diz delator
O empresário Giovani Guizardi, dono da Dínamo Construtora Ltda e delator da Operação Rêmora, prestou depoimento, na tarde desta segunda-feira (12), no Fórum de Cuiabá.
O depoimento é relativo às investigações sobre o suposto esquema de propina e fraudes em licitações da Secretaria de Estado de Educação (Seduc). A audiência é conduzida pela juíza Selma Arruda, da Vara Contra o Crime Organizado da Capital.
Em sua delação, Guizardi confessou ter integrado o esquema e deu detalhes das tratativas, apontando o empresário Alan Malouf, o ex-secretário Permínio Pinto (atualmente preso) e o deputado estadual Guilherme Maluf (PSDB) como os principais beneficiários das propinas. Guizardi estava preso desde maio deste ano, mas foi solto após decidir fazer a delação.
À juíza, ele confirmou os fatos e disse que foi ele próprio quem montou o esquema e definiu os percentuais destinados ao membro do grupo. Segundo o empresário, o esquema visava recuperar os R$ 300 mil investidos por ele e os R$ 10 milhões investidos pelo empresário Alan Malouf na campanha do governador Pedro Taques (PSDB).
“Alan ficava com 25%, o Guilherme Maluf com 25%, Perminio com 25%, eu com 10%, Fabio Frigeri e Wander com 5%”.
Ele também afimrou que Permínio Pinto era o líder do esquema e “mandava e desmandava” na secretaria.
Confira a audiência:
Convidado por Alan Malouf
Giovani Guizardi disse que, em 2014, foi convidado pelo empresário Alan Malouf para participar financeiramente da campanha do governador Pedro Taques.
“Nessa data, em conversa com o Alan, fiquei sabendo que ele já tinha investido R$ 10 milhões para o Pedro Taques e eu entrei com R$ 300 mil. O Pedro Taques foi eleito. Em 2015, fui convidado pelo Alan para uma reunião e a intenção era recuperar esse dinheiro investido. Então ficou decidido que seria atraves de licitações de obras na Seduc”.
“Foi marcada uma reunião com Alan Malouf e Perminio [Pinto] e, nessa reunião, eu fui apresentado para ele para saber qual seria a possibilidade para poder trabalhar nessas licitações. Isso foi no início de 2015.
Funcionamento do esquema
Em março de 2015, segundo Guizardi, Alan e ele definiram como funcionaria o esquema.
“O Alan entrou em contato com o Guilherme Maluf, que entrou em contato com o Wander [Luiz, então servidor]. Eu fui atrás do Wander, disse que precisávamos fazer alguma coisa para ter o retorno desse dinheiro. Ele disse que tinha pessoas que já estavam ganhando ali dentro. Disse que o Permínio estava conversando com Ricardo Sguarezi e Leonardo Guimarães. Perguntei conversando em qual sentido, e ele disse que não sabia”.
“Depois o Wander me disse que os dois (Sguarezi e Guimarães) já operavam o esquema de 5% de propina. Após, eu voltei para o Alan e disse que o pessoal já estava operando dentro da Seduc. Falei para ele que conhecia as construtoras, que isso acontece em todo o governo, infelizmente, e ele me deu ‘ok’ para começar a atuar
Guizardi disse que foi ele o responsável por elaborar quanto cada integrante do esquema ganharia.
“Fui eu que montei o esquema, inclusive com os percentuais de cada colaborador e apresentei a ele [Alan]. Alan ficava com 25%, o Guilherme Maluf com 25%, Perminio com 25%, eu com 10%, Fabio Frigeri e Wander com 5%”.
Funções de cada um
O dono da Dínamo disse que os empresários que compunham o cartel pagavam 5% de propina para ganhar a licitação da obra. Caso não pagassem, o pagamento das medições não era feito.
“Cada um dentro do grupo tinha uma função. A minha função era arrecadar o dinheiro, do empresário Luiz Fernando [Rondon] era cobrar quem estava com o propina atrasada, do [Ricardo] Sguarezi a atribuição de obras, do Edézio [Ferreira] era na formação de planilhas de custo e a do Wander era em ajudar ou dificultar que o processo andasse dentro da secretaria. Fabio [Frigeri] tinha a mesma atribuição do Wander e também agilizava ou segurava processo dentro da secretaria”.
“Eu recebi por oito meses cerca de 96 pagamentos, no total de R$ 1,2 milhão”.
A juíza Selma Arruda perguntou porque ele decidiu doar dinheiro para a campanha.
“Para conseguir trabalhar dentro da Seduc, porque as coisas funcionam desse modo mesmo”.
Selma perguntou sobre o porquê da participação do deputado Guilherme Maluf.
“Porque ele era o braço politico da Seduc, era quem colocava e tirava a pessoa lá de dentro”.
Todavia, ele negou a existência de superfaturamento nas obras.
“Esses valores eram tirados dos lucros do empresário”.
Indicações
O promotor de Justiça Marco Aurélio Castro perguntou a Guizardi qual era a função do então secretário Permínio Pinto na organização criminosa.
“Ele [Permínio] era o líder, era o secretário, era quem mandava e desmandava. Já o Fabio Frigeri atendia as determinações de Permínio”.
Guizardi também revelou quem indicou quem para a pasta. Segundo ele, o deputado federal Nilson Leitão indicou Permínio Pinto e Fábio Frigeri. Já Guilherme Maluf teria indicado o servidor Wander Luiz dos Reis.
Propina em outro contrato
Marco Aurélio disse que Guizardi citou, na delação, que o empresário Ricardo Sguarezi também pagava – além dos 5% das licitações – mais 15% de outro contrato.
“A empresa dele [Sguarezi] tem dentro do Estado um aluguel de sala e móveis, e ele quando recebe, 15% desse valor era repassado para o Permínio. Eu recebi o valor dele uma única vez, porque eu coloquei no bolo para dividir para todo mundo”.
O promotor questionou Guizardi quais foram os critérios utilizados para definir os percentuais que cada um receberia.
“Quis igualar as forças maiores: o dono da pasta, Perminio, a força politica dentro da pasta, o [Guilherme] Maluf, e a pessoa que investiu o dinheiro, o Alan, além dos demais”.
Codinomes
O promotor também perguntou como Guizardi fazia para conversar com os então servidores Wander Luiz e Fábio Frigeri.
“Eu trocava os celulares deles quinzenalmente. Reunia com eles na minha empresa, combinava o que tinha que ser combinado, pegava os celulares e dava outros.Os codinomes eram cores, países e cidades”.
Marco Aurélio indagou como Guizardi sabia quanto os empresários tinhama receber da Seduc.
“O Fábio ou o Wander me passavam uma planilha e eu também consultava no Fiplan”.
Depósito a Leitão
Giovani Guizardi relatou que um dos beneficiados pelo esquema de propinas foi o deputado federal Nilson Leitão (PSDB).
“O Permínio uma vez me deu, em um papelzinho, o numero de uma conta para fazer o depósito de R$ 20 mil. Quem fez o depósito foi o meu funcionário, Edezio. Depois eu vi que quem foi beneficiada foi uma rádio de Sinop, do Nilson Leitão”.
“Entreguei propina para o Permínio umas duas vezes na garagem do prédio dele. Outras vezes eu subi no aparatamento dele. Em uma dessas ocasiões, inclusive estava a esposa, e outra vez o Fábio e o Wander”.
Propina a deputado
O empresário disse que nunca entregou propina diretamente a Guilherme Maluf, mas já o viu pegando uma caixa com o dinheiro.
“Em uma ocasião, somente uma, eu fui no Buffet Leila Malouf entregar o dinheiro para o Alan. Ele pediu para ir no banheiro e que deixasse a parte dele de 25% em um local e a outra parte de 25% em outro local, dentro de uma caixa. Assim que eu saí do banheiro o Guilherme Maluf chegou lá. O Alan pediu um minuto para falar com ele e eu fiquei sentado mexendo no celular. Depois que eles terminaram de conversar, o Guilherme foi até o banheiro e saiu com a caixa de dinheiro que eu tinha deixado lá. Essa foi a unica vez que vi o Maluf pegando dinheiro”.
“Escola Legal”
O promotor Marco Aurélio pergunta sobre o projeto “Escola Legal”, orçado em R$ 33 milhões.
“Quem fez esse projeto fui eu, não havia nada de errado nele, eu fiz com a intenção de ganhar a obra. O projeto visava atender as escolas na Grande Cuiabá para manutenção em geral. Por exemplo, se caísse um telhado, a gente ia lá arrumar. O Perminio deu ok no projeto, daí eu fiz tudo: a planilha, a licitação e enviei para a Seduc. Mas assim que fui publicado ele foi cancelado. Eu fiquei muito irritado, cobrei ele [Permínio], porque se tinha algo que não tinha nada de errado era esse daí”.
Esposa de servidor pediu ajuda
Guizardi afirmou que como os servidores Fábio Frigeri e Wander Luiz foram exonerados após a prisão, não receberam mais pagamentos da Seduc.
“Uns 45 dias depois a mulher do Fábio esteve no CCC reclamando da condição financeira e o Fábio veio falar comigo. Eu disse para ele falar para a esposa procurar o Permínio para resolver isso. Mas ela não encontrava ele [Perminio], acho que ele estava escondido lá por Chapada. Outra vez ela [mulher de Fábio] apareceu lá no CCC reclamando que não tinha nem comida para levar para o Fábio. Mas depois acho que conseguiram resolver, alguém foi contratado na Assembleia, algo assim”.
Relação de Alan com Taques
A defesa de Permínio Pinto perguntou qual era a função de Alan Malouf na campanha de Taques e qual era a relação do dono do buffet com o governador.
“Ele estava ligado à parte financeira da campanha. São amigos, o governador frequenta a casa do Alan”.
Texto: MidiaNews