Réu desiste de delação após receber ameaças

O ex-servidor da Secretaria Estadual de Educação (Seduc), Fábio Frigeri, preso na Operação Rêmora sob a acusação de integrar uma organização criminosa que cobrava propina de empresários em licitações lançadas pela Seduc recuou do acordo de delação premiada que iria fazer junto ao Ministério Público Eleitoral. O motivo da desistência seriam ameaças que ele recebeu para não revelar detalhes do esquema de corrupção que tem conhecimento.

Ao Gazeta Digital, a advogada Michelle Marie de Souza, que patrocina a defesa de Frigeri, admitiu que houve essa possibilidade, mas que agora está descartada. Ela assumiu a defesa de Frigeri depois que seu antigo defensor, Arthur Barros Freitas Osti, deixou a causa no final de setembro.

“Não vai acontecer. No início, estudando o processo a gente estava analisando se existia algo pra ser dito, mas concluímos que não existe”, afirmou Michelle Marie. Ela, no entanto, não comentou qualquer situação de possíveis ameaças sofridas por seu cliente.

Ontem (1º) veio à tona o teor da delação premiada firmada pelo empresário Giovani Belatto Guizardi, também preso na Operação Rêmora e apontado com um dos operadores do esquema. Ele confirmou a existência de uma organização criminosa que atuava na Seduc desde 2015 e afirmou que a ideia era levantar dinheiro de propina para custear despesas de caixa 2 de campanhas políticas de 2014, inclusive do atual governador Pedro Taques (PSDB).

Guizardi também afirmou em sua delação que Fábio Frigeri foi um dos indicados pelo deputado federal Nilson Leitão (PMDB) outro beneficiado de parte do dinheiro oriundo de propinas. A advogada de Frigeri nega essa versão. Para ela, a delação de Guizardi não trouxe novidade em relação ao seu cliente. “Na verdade não é fato novo essa delação. Ele [Fábio Frigeri] foi contratado pelo Permínio, não foi indicado pelo Nilson Leitão. Era subordinado e cumpria as ordens do chefe Permínio”, atesta a jurista.

Entenda

Desde o momento em que Osti deixou a defesa de Frigeri aumentaram as especulações de que ele pretendia firmar acordo de colaboração premiada. O motivo é que o advogado Arthur Osti patrocinava as defesas de Frigeri e Permínio Pinto. No final de outubro passou a defender apenas o ex-secretário de Educação apontado pelo Ministério Público como o chefe da organização criminosa que tinha como alvos 23 licitações para obras de construção e reformas de escolas estaduais orçadas, inicialmente, em R$ 56 milhões.

Com a saída de Osti e entrada de Michelle Souza ganhou força, nos bastidores, a tese de que o motivo da troca de advogados tinha a ver com o fato de Fábio Frigeri mostrava-se disposto a colaborar com o Ministério Público Estadual (MPE) e firmar um acordo de colaboração premiada comprometendo o ex-chefe.

Fábio Frigeri é acusado de participar do esquema de fraudes a licitações, esquema desarticulado na Operação Rêmora deflagrada pelo Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado (Gaeco) no dia 3 de maio. Naquela ocasião Frigeri ainda era servidor comissionado na Seduc e foi preso por determinação da juíza Selma Rosane.

Ele ocupava cargo comissionado na Seduc com salário de 9,3 mil e era assessor direto do então secretário de Educação, Permínio Pinto, que também foi exonerado do cargo um dia depois da Operação Rêmora. As investigações do Gaeco apontaram que Frigeri, dentro da organização criminosa, integrava o núcleo dos agentes públicos que tinha outros 2 funcionários públicos da Seduc.

Texto: Gazeta Digital