Sala em Cuiabá funcionava como central de escutas da PM; veja

Sala em Cuiabá funcionava como central de escutas da PM; veja

Policial deu detalhes do local utilizado para operar “grampos” clandestinos da PM

 

O depoimento prestado pela 3ª sargento da Polícia Militar, Andréa Pereira de Moura Cardoso, à Corregedoria Geral da PM, na última sexta-feira (26), revelou que uma sala, localizada na Rua Desembargador Ferreira Mendes, nº 235, na região central de Cuiabá, servia de base para atividades de interceptações telefônicas da PM.

De acordo com o depoimento, ao qual o MidiaNews teve acesso, a policial procurou as autoridades após as notícias de que uma central de grampos clandestina seria operada com conhecimento do ex-comandante geral da PM, o coronel Zaqueu Barbosa, e o cabo Gerson Ferreira Gouveia Júnior, ambos presos preventivamente na última terça-feira (23).

No depoimento, Andréa afirma que foi seu então comandante no Centro Integrado de Operações Aéreas, coronel PM Siqueira Júnior, quem lhe orientou a procurar Zaqueu. Na época (entre 2014 e 2015), o então comandante-geral ofereceu o trabalho na área de inteligência e apresentou Gerson como o oficial que lhe mostraria como desenvolver o serviço.

A policial relatou que o imóvel usado para operar as escutas possuía dois quartos. O cômodo usado por ela tinha duas mesas de escritório, dois computadores, fones de ouvido “e outro equipamento maior, que aparentava ser uma CPU grande”.

Já o outro quarto, segundo ela, era utilizado pelo cabo Gerson. No local, havia armários e cerca de 15 celulares acoplados a um computador, além de mesa e cadeira de escritório.

“Ambas as salas permaneciam abertas. Nesse ambiente de trabalho, eu ficava sempre sozinha, no período das 13h até às 18h, aproximadamente”, disse.

Além disso, o imóvel ainda tinha uma sala sem móveis, uma cozinha com conjunto de mesa e cadeiras, e um banheiro.

Equipamentos instalados

De acordo com Andréa, o cabo Gerson aparecia apenas de forma esporádica no local. Ela também disse que não se recorda se começou a operar as escutas em 2014 ou em 2015.

“Quando iniciei as minhas atividades nesse apartamento, o mesmo já estava pronto, com todos os equipamentos instalados, caracterizando que esse local já era utilizado há um determinado tempo”, disse.

Em razão do aumento da demanda, a policial contou que o PM Clayton Dorileo começou a frequentar o local, utilizando o mesmo quarto em que permanecia.

“O computador que o Clayton utilizava poderia ser qualquer um dos que haviam naquele local. Todos os policiais militares possuíam um login e senha para acesso ao sistema de escuta”.

A policial relatou ainda que permaneceu realizando suas atividades na sala até julho de 2015. Em seguida, ela conta que foi informada, por outro policial, de que o apartamento seria fechado. E que, a partir daquela data, ela deveria continuar o trabalho em sua residência, utilizando para a atividade seu próprio computador.

A policial contou que recebeu um email com o passo a passo para a instalação do sistema, mas que não conseguiu realizar os procedimentos e pediu ajuda. Um sargento, então, a auxiliou de forma remota, entrou em sua máquina e fez a instalação com êxito.

Ela explicou que fazia as escutas baseadas em uma relação de pastas salvas no sistema – e que a relação já eram áudios salvos através de escutas. “Eu tinha por obrigação ouvir todos os áudios e anotar as partes importantes, com as respectivas datas e horários. Os áudios eram identificados, durante a conversa, na maioria das vezes, de policiais militares”, disse.

A policial militar disse que ouviu uma “traficante de nome Tati” (supostamente Tatiana Sangalli), bem como presidiários, não sabendo dizer de qual cidade. Ela afirmou que jamais ouviu a deputada Janaína Riva (PMDB), desembargadores, juízes, médicos ou jornalistas

Que as pastas que continham os áudios no sistema eram salvas e selecionadas para que ela pudesse ouvir, a escuta ocorria em quinze dias, era interrompida e era novamente estabelecido o áudio

Que essa atividade em sua residência permaneceu até meados de Setembro de 2015, que depois disso ficou aguardando em casa até novembro, quando recebeu uma ligação para ir até à Casa Militar, onde foi comunicada que seu serviço estava encerrado, e passou a atuar em função administrativa.

Receio de represálias e computador pessoal

A policial contou na Corregedoria da PM que não tinha conhecimento de quem era a pessoa que fazia a manutenção dos aluguéis, pagamento de luz, água e condomínio da sala.

Ela disse que o edifício possui portaria com guarita e que Gerson fez a devida apresentação para que ela tivesse acesso franqueado.

A policial militar, no depoimento, fez questão de frisar que os equipamentos permaneceram na sala quando ela foi fechada – não sabendo informar quem ficou com os mesmos.

Ela disse ainda que procurou a Corregedoria Geral da PM, com seus advogados, pois se sentiu na obrigação de prestar os esclarecimentos, já que cumpriu ordem de seus superiores, não havendo nada de ilegal em suas ações, e que não imaginava que as interceptações fossem ilícitas.

Ela entregou de forma espontânea seu computador pessoal, sendo uma CPU da marca Positivo, que era utilizado em sua casa no sistema mencionado. Ela disse também que o computador teve seu disco rígido formatado, por volta de novembro de 2015, por orientação do PM Gerson.

o final do depoimento, seus advogados requereram que a PM garanta a segurança de sua carreira, já que a policial teme por sua vida e a de sua família, bem como represálias no âmbito da Polícia Militar.

Texto: MidiaNews