Vídeos de suposta propina resultaram em CPI e saída da política

Há exatamente um ano, foi ao ar uma reportagem do Jornal Nacional exibindo os vídeos contidos na delação do ex-governador Silval Barbosa, no qual deputados estaduais aparecem recebendo maços de dinheiro no Palácio Paiaguás. Os valores, conforme o ex-gestor, seriam fruto de propina.

Parlamentares enchendo bolsas, bolsos de paletó e maletas com dinheiro, sorrindo, fazendo gracejos ou chateados em razão de pagamentos “pré-acordados” que não foram realizados aparecem nos vídeos. Rapidamente, as imagens ganharam os noticiários nacionais e se tornaram umas das mais chocantes no cenário da política brasileira.

Desde então, alguns políticos ainda colhem prejuízos por conta do episódio, enquanto outros aparentam levar a vida normalmente e até tentam se reeleger no pleito deste ano.

Um dos personagens do vídeo, o prefeito de Cuiabá Emanuel Pinheiro (MDB), se tornou alvo de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara de Vereadores que enfrenta polêmicas desde a sua criação e, atualmente, encontra-se parada por força de uma decisão judicial.

A chamada “CPI do Paletó” foi aberta sob alegação de “quebra de decoro” por parte do prefeito, ainda que os fatos apontados na delação sejam relativos à época em que ele era deputado. Os vereadores também apuram, nessa CPI, a suposta tentativa por parte de Emanuel em atrapalhar as investigações.

A CPI chegou a colher alguns depoimentos, entre eles do ex-governador Silval e de seu assessor à época, Silvio Correa – que, no vídeo, aparece entregando os maços de dinheiro aos políticos.

Silval foi um dos que contestou a defesa de Emanuel, que aponta que os valores recebidos por ele eram relativos a pagamentos de pesquisas contratadas junto ao instituto de seu irmão.

“Aquelas imagens eram um acordo de extorsão que foi feito pelos membros do Legislativo. Quem em sã consciência vai acreditar que a fila indiana que ocorreu naquele dia da gravação é pagamento de pesquisa?”, questionou Silval, em seu depoimento.

A prefeita cassada de Juara, Luciane Bezerra (PSB), também aparece nos vídeos. Ela é inclusive, uma das que faz declarações inusitadas nas gravações.

Em um dos vídeos, ela cita que dá até uma “tremedeira” receber tanto dinheiro. Em outro trecho sugere, entre risos, que partes destinadas a José Riva e Romoaldo Júnior (MDB) sejam repassadas a ela.

Luciane teve seu mandato cassado neste ano pela Câmara de Vereadores de Juara, numa sessão que demorou 34 horas. O fato, no entanto, não guarda relação com o vídeo da delação. Ela perdeu o mandato em razão de supostas fraudes em licitações do munícipio.

Saída da Política

Os vídeos, no entanto, foram um dos motivos que levaram dois parlamentares a desistirem de tentar a reeleição neste ano.

O deputado estadual José Domingos Fraga, o Zé Domingos (PSD), alegou ter sido alvo de uma “armação totalmente premeditada”. Mesmo negando que os valores sejam propina, ele não disputará a eleição em outubro.

Ele ainda tinha pretensões de concorrer a uma vaga de conselheiro no Tribunal de Contas do Estado (TCE-MT), mas desistiu do projeto, também em razão das imagens.

A desistência mais recente é a do deputado Baiano Filho (PSDB). Na última semana, ele anunciou que não seria mais candidato.

Em coletiva de imprensa na última quarta-feira (23), o parlamentar confirmou que as imagens contidas na delação também pesaram para sua decisão.

Candidatura mantida

O deputado federal Ezequiel Fonseca (PP), por sua vez, não alterou seus projetos de lá pra cá.

Segundo o parlamentar, o dinheiro recebido no Paiaguás era fruto de uma dívida que Silval tinha com ele.

O ex-deputado Hermínio Barreto, conhecido como J. Barreto, também foi filmado enquanto colocava o dinheiro em uma mala. Ele faleceu em maio deste ano, vítima de um acidente na BR-364.

Os ex-deputados Airton Português e Alexandre César, também flagrados, estão fora da política.

Ações do MPE

Os políticos flagrados foram denunciados, em abril deste ano, pelo Ministério Público Estadual.

A denúncia é de autoria do promotor de Justiça Clóvis de Almeida Júnior, membro do Núcleo de Ações de Competência Originária Cível (Naco).

O MPE também ingressou com duas ações civis públicas, por improbidade administrativa, contra Emanuel Pinheiro e Luciane Bezerra.

Nas ações, o órgão pediu o afastamento de ambos de seus cargos e o bloqueio de bens dos envolvidos em até R$ 37 milhões.

Em maio, a juíza Célia Regina Vidotti, da Vara de Ação Civil Pública, determinou o bloqueio de bens em R$ 1 milhão do prefeito Emanuel.

Já o juiz Luís Aparecido Bertolussi Júnior, da mesma Vara Especializada em Ação Civil Pública, determinou o bloqueio de R$ 1,2 milhão em bens do deputado Baiano Filho. O mesmo magistrado mandou bloquear R$ 1,2 milhão em bens do ex-deputado Alexandre César.

As ações tramitam em sigilo.

Texto: Camila Ribeiro/ Mídia News